HOMILIA NO XII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Caríssimos irmãos e irmãs aqui presentes neste mês tão especial dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, a razão de ser deste lugar consagrado a Deus. Queridos irmãos e irmãs que acompanham neste momento a transmissão desta Santa Missa dominical, do décimo segundo domingo do tempo comum. O nosso coração se enche de alegria e preenche as tantas situações que enfrentamos no mundo, ao escutarmos os textos bíblicos da palavra proclamada por toda a Igreja.

Neste domingo, ao mergulharmos profundamente no sentido da palavra proclamada, tenho certeza de que em nós, enquanto discípulos, e no nosso apostolado se concretiza muito do que o Senhor tem a nos dizer em cada parte do evangelho; especialmente no que foi proclamado segundo o evangelista Mateus. Prestemos até um pouco mais de atenção, porque de fato, o evangelho de hoje começa com aquela tradicional narrativa: naquele tempo, disse Jesus. Comumente ouvimos em seguida: aos seus discípulos, mas hoje ouvimos: naquele tempo disse Jesus a seus apóstolos.

            Há uma diferença entre ser discípulo e apóstolo? Sim, há uma diferença. Quando nos tornamos seguidores de Jesus e encontramos um mestre, o seguimos e nos tornamos assim discípulos Daquele que dá sentido à nossa vida. O Senhor chama a todos pelo santo batismo a seguí-lo, portanto, a cada um de nós é dada a condição deste seguimento e dizemos que somos discípulos do Senhor. Mas, ao tomarmos consciência da realidade concreta onde estamos, ou seja, o mundo onde a nossa vida precisa ser vivida como um dom, a cada dia é preciso tomar consciência de que também, de alguma forma, somos apóstolos.

Jesus escolheu em primeiro lugar um grupo de 12 apóstolos e o que ouvimos hoje, nada mais é do que recomendações dadas a este grupo dos 12. Não só recomendações, mas um acalento ao coração destes agora Apóstolos, pois enviados ao mundo, precisam sentir sempre a presença de Deus.

Por isso Apóstolo se diferencia porque além de ser discípulo, é alguém que foi enviado por Deus, e eis a diferença entre um e outro. Pelo batismo recebemos a condição de nos tornarmos discípulos de Cristo e pelo sacramento do crisma recebemos uma missão concreta neste mundo. Inclusive, dizemos que temos um apostolado, quando usamos esta palavra, justamente a raiz está na condição daqueles que foram enviados ao mundo.

            Portanto, há o apostolado por exemplo daqueles que são pais e mães de família, se concretiza também no mundo onde o Senhor os insere,  há  o apostolado da profissão que cada um tem, também precisa se inserir na mesma condição de uma missão. O apostolado que Deus nos dá nos chamando para uma tarefa eclesial, com certeza se estabelece um contato com Deus, por uma atividade missionária.

Por isto, meus irmãos, todos precisamos nos sentir como apóstolos, mesmo aqueles que ainda não receberam o sacramento do crisma, podem tomar consciência desde já, que estão inseridos neste mundo e não estão aqui simplesmente passando. Mas, neste mundo, enquanto um dom recebido por Deus, que é o dom da vida, temos uma missão a viver, e esta missão muitas vezes causa para nós não só o que tanto desejamos na prática de fazer o bem àqueles que estão próximos de nós, ou até distantes, mas em algumas situações, poderemos como os apóstolos enfrentaram, as condições de medo por tudo que nos cerca.

            É por isto que Jesus hoje no evangelho em poucos versículos, por três vezes volta-se para os apóstolos e diz: não tenhais medo. Não é à toa, porque Jesus quer que os apóstolos sintam que a missão neste mundo é realmente necessária, que o apostolado é necessário, e que o medo embora muitas vezes invada o nosso coração, jamais pode impedir de que estejamos neste mundo transformando a nossa realidade.

Infelizmente há seres humanos que perdem até a própria condição social de estar presente na várias realidades do mundo. É porque o medo invadiu de tal forma, que precisa se sentir protegido em ambientes seguros, e em algumas situações sentem medo até mesmo de sair de casa.

É possível que em algumas vezes na nossa vida, tenhamos enfrentado essas situações, a pandemia que tanto assolou e ainda causa um certo transtorno e medo em nós, com certeza é um exemplo muito concreto, mas o Senhor chega a dizer aos apóstolos para que não tivessem medo, e ele explica três situações ainda mais concretas.

            Diz Jesus: não tenhais medo dos homens, porque nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido. Jesus está dizendo aos apóstolos e a nós, que sim, que enfrentamos neste mundo condições caluniosas, de mentiras, na linguagem moderna de fake news. Situações que não favorecem a nossa própria existência, mas Jesus está dizendo: não tenham medo disso, porque a verdade sempre prevalece, e o que Eu vos digo na escuridão é preciso dizer a luz do dia.

É preciso proclamar uma verdade, e a verdade prevalece. Portanto, não tenhais medos medo de homens e de mulheres, de seres humanos que espalham, muitas vezes, condições que ferem a nossa história pessoal. Não tenhais medo! Mas ao mesmo tempo vejam, continua Jesus na segunda consideração, no cerne hoje do Evangelho dizendo o seguinte: não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma, pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno.

Que grande consideração tem Jesus ao alertar os seus apóstolos e a nós, que é preciso sim, ter um cuidado com o corpo porque, claro, precisamos de saúde física o quanto é necessário para nossa missão neste mundo. Mas as vezes também somos precários, e enfrentaremos situações de limite com relação à saúde. É preciso perceber que não somos formados só da condição corporal, necessária para este mundo, somos seres espirituais. Se há algum medo a enfrentar neste mundo, que seja o medo daqueles que não só matam o corpo, mas matam a alma.

Muitas vezes ficamos tristes diante de tantas situações, e de fato estamos sujeitos a tudo neste um mundo. Infelizmente, ao sairmos daqui ou próximo de nós, basta inclusive vermos um pouco de noticiário, nem precisa ver todo dia, para percebermos as formas de violência contra os seres humanos. Como não pensar, por exemplo, no que aconteceu segunda-feira em Cambé com aqueles dois jovens? Infelizmente não é um único caso de violência, mas o que faríamos? Nos colocaríamos em um lugar de superproteção para não enfrentarmos tais situações? Estamos sujeitos, infelizmente a violência, mas o que diferenciou o fato é que aconteceu próximo daqui, em nosso estado. Tenho certeza que isso deve ter sido acompanhado por muitos de vocês, o fato daqueles dois jovens, também na sua vida tão juvenil, terem uma vida tão consolidada em Deus, pois participavam de um grupo de jovens dentro da sua comunidade paroquial. Os pais da menina coordenam uma capela lá em Cambé.

É interessante perceber que em meio a essas situações, eram pessoas que cuidavam da vida como um dom e ninguém quer realmente perder a vida, mas sabem compreender que Deus é muito mais do que aquela situação violenta que, infelizmente, tirou a vida dos seus filhos. Deus preenche verdadeiramente o coração e estes jovens estavam procurando a Deus, assim como estamos, numa uma comunidade paroquial. Eles estavam domingo passado em uma missa, e o padre até deu testemunho que a moça pediu confissão no domingo. Nem sabia o que poderia acontecer na segunda-feira, e de repente, alguém preparada para uma vida que almejamos, vida eterna, porque a nossa vida é um dom mas é passageira e se estamos no mundo temos uma missão.

Cumpriu-se a missão daqueles jovens, mas a dos pais continua, e que belo testemunho daquela mãe, quando fizeram um ato de fé respeitando inclusive outras religiões, mas falando da participação junto à uma comunidade paroquial, da Fé daqueles jovens. E que embora tivessem sofrendo tanto, e realmente o sofrimento vem a nós, mas confiam em Deus, e pediam inclusive: famílias, amem uns aos outros, espalhem o amor, é melhor do que espalhar o ódio, é melhor do que espalhar a perseguição. Até dizia àqueles que trabalhavam no colégio: não se sintam culpados. E não encontraremos culpados mas pensamos que quem sabe esta situação nos leva a pensar no amor concreto, e a levar outros a uma conversão. Tenho certeza de que Deus não quer ceifar a vida de inocentes, mas poupa a vida de muitos que não estão preparados para estar junto de Deus.

Por isso na última consideração, diz assim no Evangelho: não tenhais medo, porque vós valeis mais do que muitos pardais, ou seja, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados, e nada acontece na terra sem o consentimento do Pai. São palavras do evangelho de hoje, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai, quando se refere a esses dois pardais, ou ainda: todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus.

            É promessa de Jesus aos seus apóstolos e para aqueles que sentem que também estão enviados a este mundo com uma missão, que Ele há de interceder em favor daqueles que declaram um amor a ele. É o que Jesus nos diz hoje. Portanto, não neguemos o Senhor, pelo contrário, professemos uma fé no Deus único e verdadeiro, e se estamos sujeitos infelizmente, às condições do mundo por causa do pecado, porque a morte é fruto do pecado, busquemos a salvação.

São Paulo mesmo nos diz hoje na segunda leitura, o pecado entrou no mundo e desta forma entrou a morte, mas para vencer o pecado e a morte, Cristo nos redimiu por esta condição, por uma graça, e é crendo em Jesus que saberemos que a nossa prece, a nossa oração chega até Ele. E que somos atendidos para aquilo que precisamos neste mundo, e se não for para este mundo, nossas preces nos preparam para uma condição ainda maior, a condição de vida eterna.

Por isso, precisamos pensar, se estamos neste mundo, temos um apostolado, temos uma missão, e temos que estar preparados a todo momento. Na hora em que o Senhor nos chama, que estejamos com o coração bem preparado para este encontro definitivo com Ele.  Ouviremos hoje no prefácio da missa: então contemplaremos vossa Face, e louvaremos sem fim a vossa misericórdia. Eis o nosso destino, é muito mais do que as condições temporais, são condições que não passam da eternidade que nos aguarda. Que Deus nos ajude enquanto missão neste mundo, sejamos portadores de Cristo e levemos adiante a missão que Ele confia a cada um de nós.

Escrito por: Pe. Maurício