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Jo 1, 2-11

2Ele estava no princípio junto de Deus.

3Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.

4Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.

5A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

6Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João.

6Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João.

7Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.

7Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.

8Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

8Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

9[O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.

10Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu.

11Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.


HOMILIA DO II DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos irmãos e irmãs, estamos celebrando este segundo domingo do tempo comum, pois na última segunda-feira, depois da festa do batismo do Senhor, iniciávamos esta primeira semana em que tomamos um contato com a vida pública de Jesus. 

Bem-aventurado foi o Papa São João Paulo II que intuiu que pudéssemos rezar com os santos mistérios do rosário a vida pública do Senhor, indicado aqui neste Santuário nos cinco mistérios da luz.

Na semana passada, na festa do batismo do Senhor, iniciávamos a contemplação do primeiro mistério, e hoje o segundo mistério, na ilustração dos sinais de Jesus nas Bodas De Canaã.

Na sabedoria da Igreja somos convidados, hoje, a contemplar por meio do evangelho um grande sinal do Cristo que é o nosso salvador.

É interessante percebermos nesta narração das Bodas De Canaã alguns elementos que propriamente tornam-se imprescindíveis na interpretação do texto. Estamos em uma festa de casamento, há um convite realizado, há vinho, há a figura do Mestre-Sala, há também a figura dos servos, seis talhas de pedra, há água em abundância, e há por fim um vinho muito bom.

Estes elementos trazidos pelo evangelho de São João nos ajudam a compreender o que será importantíssimo nesse tempo comum, somos convidados a perceber a ligação da antiga aliança que Deus fez com o povo de Israel, e a nova e definitiva aliança realizada por Jesus na história da nossa salvação.

Por isso que iniciamos falando deste momento em que Jesus participa de uma festa de casamento. Assim começa o texto do evangelho de São João, no capítulo segundo:“Houve uma festa de casamento em Canaã da Galileia”. Uma festa de casamento para os Judeus no mínimo durava sete dias e, como de fato, muitos acorriam para esta festa, havia abundância não só de comida, mas de bebida. Interessante perceber que Jesus está ligado a esse momento e está participando desta festa de casamento.

Quando lembramos que há uma unidade entre um homem e uma mulher por meio do casamento no antigo testamento e para nós no novo testamento há sempre a ideia de aliança.  O povo de Israel todas as vezes que participa de uma festa de casamento, era convidado a renovar aquele sinal que Deus tinha realizado com o povo, o que chamamos de antiga aliança, aquele momento em que Moisés recebe de Deus as tábuas da lei. Por isso, em uma festa de casamento há muitos elementos importantes desta antiga aliança que Deus realizou. Quando Ele realizou um sinal, uma aliança com um povo, esta aliança é relembrada no dia em que se celebra um casamento.

Depois vem um segundo elemento trazido pelo evangelho de São João, a Mãe de Jesus estava lá. Interessante perceber que no evangelho de São João só há dois momentos que Maria aparece com Jesus.  Neste capítulo segundo, quando está na festa das Bodas de Canaã, e aparece de novo aos pés da cruz. Lá estava Maria, na festa de casamento e aos pés da cruz, contemplando a aliança que Deus estabeleceu com a humanidade, e a nova e definitiva aliança pelo sangue do cordeiro imolado.

Continua o texto, o vinho veio a faltar, se era uma festa de sete dias, imaginem a quantidade de vinho, e o vinho servido em primeiro lugar era o melhor vinho.  Esse era o costume do povo judeu: servir o que era melhor em primeiro lugar, depois o que viesse era lucro. Faltar vinho em uma festa de casamento não só aborrecia os convidados, como levaria os noivos (a ideia dos noivos vai aparecer daqui a pouco como ideia central), a não estabelecer um grande sinal de aliança com Deus.

Vem outro elemento no evangelho de São João, quando ela diz a Jesus que eles não têm mais vinho e Jesus responde: “mulher, por que dizes isso a mim”? Parece uma falta de respeito, como é que um filho chama a sua mãe de mulher, não deveria chamá-la de mãe? Não é verdade? Logo percebemos a ideia de aliança conjugal, pois Jesus aqui é a imagem do noivo e Maria é a imagem da noiva.

Da mesma forma como Deus estabeleceu uma aliança com o povo de Israel, agora quer estabelecer uma aliança definitiva conosco.  Como?  Jesus é o noivo e Maria, a Igreja, por isso que a igreja toma sempre a forma feminina.  Nós estamos esperando o noivo, estamos a esperar todos os dias para realizar uma grande festa, com um sentido profundo pois, Cristo estabeleceu uma nova aliança, não a antiga de Israel com Deus, mas com seu sangue imolado.

Continua ainda o texto, quando a mãe responde àqueles que eram responsáveis para servir o vinho, “fazei o que ele vos disser”.  Na verdade, falta uma palavra que é fundamental na nossa tradução, deveria ser assim “fazei tudo o que ele vos disser”.  Quando estabelecemos uma aliança com Cristo, não fazemos algumas coisas, somos convidados a realizar tudo, e é assim o mandato de Maria, fazei tudo o que ele vos disser. Na aliança do Êxodo no antigo testamento, há um texto no livro do Êxodo, que também fala deste fazer tudo: “faremos tudo o que senhor disse”.  Essa foi uma resposta do povo, e agora neste momento a outra resposta: é preciso fazer tudo o que Jesus realmente mandar.

Continua o texto, estavam ali seis talhas de pedra para a purificação que os judeus costumavam fazer. Esta interpretação das seis talhas, é realmente espetacular, porque seis na bíblia não é um número muito utilizado, mas aqui quer lembrar os cinco primeiros livros do antigo testamento, que chamamos de Pentateuco, estes livros são lidos pelos judeus e são chamados os livros da Torá, são os únicos a serem lidos pelo povo na antiga aliança.  E há um livro que por volta dos anos setenta da nossa era cristã, começou a ser escrito, que contém a tradição oral dos Judeus, o Mishná. Logo há uma interpretação futura de um sexto livro que até hoje é lido pelos judeus.  

Se existe então a Torá com os cinco primeiros livros, há uma tradição oral que é também passada pelos judeus, por isso o número seis.  Seis, é um número imperfeito  porque abre-se um tempo novo de purificação. Por isso as seis talhas estavam vazias. Eis o mandato de Jesus: “enchei as talhas de água”, e eles encheram até a boca, em abundância. Novo tempo.

 Imaginem o quanto de água que era necessário, e esse texto é bem interpretativo neste sentido, porque em cada talha cabiam 100 litros de vinho.  Vocês imaginem o que é essa quantidade de vinho para uma festa de casamento. Ainda bem que era uma semana de festa, imaginem para um dia, 600 litros de vinho.

E depois desta abundância, eis que Jesus realiza um grande sinal, o mestre sala nem sabia o que tinha acontecido, porque Jesus estava em diálogo com os serventes.  Os serventes são a imagem mais fidedigna nossa. Nós também precisamos obedecer à voz do Cristo, e encher a nossa vida em abundância com água. A água é sinal de purificação, mas a água agora é transformada em vinho, já um sinal no capítulo segundo do modo como Jesus continuará depois presente na história com vinho em abundância. O vinho será sinal do seu sangue e no capítulo sexto do evangelho de São João, haverá outro sinal, o pão. O pão e vinho, que transubstanciados, serão um alimento salutar para a eternidade.  

O mestre sala não sabia o que estava acontecendo, imaginem alguém responsável pela festa nem saber o que estava acontecendo, e o mestre sala então se dirige ao noivo. Interessante, porque o texto diz que o mestre sala chamou o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve o vinho melhor, e quando os convidados já estão embriagados servem o vinho menos bom, mas tu guardaste o vinho melhor até agora”. Erro trágico deste mestre sala, não deveria ter ido até o noivo, porque não foi o noivo que transformou a água em vinho. Quem é o noivo agora, o Cristo. É ele que realiza este sinal, o mestre sala deveria ter ido ao Cristo e falado: “você trouxe alegria, vida nova em abundância, razão para esta festa”. O noivo, na verdade, nem sabe explicar, mas Cristo sabe, por que ele realiza um grande sinal desta nova e definitiva aliança, realizada conosco.

Termina o texto de hoje dizendo o seguinte: “que este foi o primeiro sinal que Jesus realizou”, e por que escolheu uma festa de casamento? Pois é a imagem mais fidedigna que existe no mundo da aliança que Deus realizou conosco.

Se no antigo testamento a festa de casamento lembrava a aliança de Deus com a humanidade, para nós do novo testamento uma festa de casamento sempre lembrará o encontro da Igreja com o Cristo.  O encontro da noiva que somos nós, como do noivo que é o Cristo.

Por isso a cada festa de casamento que participamos em nosso tempo atual, relembremos deste episódio, mas saibamos realmente que esta aliança que Cristo realizou conosco é definitiva.

Tenho certeza de que muitos participarão de festas de casamento neste ano, aproveitem a oportunidade para relembrar desta aliança que Cristo fez conosco.  Ele nos amou de modo definitivo, deu-se a nós como alimento, e nos reúne para que prossigamos neste mundo sendo sinais da sua presença.

Oremos alguns instantes, meus queridos irmãos, especialmente por aqueles que já são casados, para que renovados no compromisso matrimonial sintam a presença do Senhor, mas oremos também por aqueles que irão neste ano contrair as núpcias pelo sacramento do matrimônio para que também vivam intensamente este sacramento que Jesus instituiu.

Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 19:00h do dia 20/01/2019. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original.

Escrito por: PE. MAURÍCIO