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Mc 1,14-20

14Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galiléia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia:

15"Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho."

16Passando ao longo do mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.

17Jesus disse-lhes: "Vinde após mim; eu vos farei pescadores de homens."

18Eles, no mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no.

19Uns poucos passos mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca, consertando as redes. E chamou-os logo.

20Eles deixaram na barca seu pai Zebedeu com os empregados e o seguiram.


HOMILIA DO III DOMINGO DO TEMPO COMUM

No próximo dia 14 de fevereiro, se Deus assim permitir, estaremos completando 2 anos em que estou trabalhando neste Santuário. Acredito que chegou o tempo muito favorável para que possamos ao longo deste ano aprofundar aspectos da liturgia que comumente estão aos nossos olhos, mas tantas vezes, não experimentamos esta totalidade, até mesmo pela falta de uma catequese profunda a respeito dos mistérios que celebramos.

Então ao longo deste ano estarei oferecendo por meio da homilia ou no final da Santa Missa, se não conseguir fazer uma ligação propriamente dita com algum tema da liturgia, elementos essenciais para que celebremos bem os santos mistérios. Poderíamos até pensar a respeito de catequeses litúrgicas que nos acompanharão ao longo deste ano. E assim daremos início hoje com essa catequese e também ao longo deste final de semana, falando a respeito do tempo litúrgico.

E porque a escolha então deste tema, propriamente um tema de introdução aos mistérios que celebramos. Se lembrarmos  um pouco os textos bíblicos que acabamos de ouvir, cada um ao seu modo fala a respeito do tempo, a primeira leitura, do profeta Jonas, fala a respeito de um tempo de quarenta dias, necessários para que uma cidade pudesse converter o coração e voltar-se para Deus. O texto da segunda leitura, da carta aos Coríntios, fala que o tempo que Deus nos dá é um tempo abreviado. Já o santo evangelho, que é central na nossa liturgia narra esta expressão tão forte do evangelho de Marcos: o tempo já se completou e o reino de Deus está próximo.

Propriamente os textos bíblicos poderiam nos levar para uma reflexão a respeito de algumas características do tempo. Poderíamos, por exemplo, pensar que estamos situados na liturgia no que chamamos de um tempo cósmico ou um tempo em que nos situamos no ciclo da própria natureza. Vejam que o primeiro elemento essencial que marca a nossa história de vida Cristã está na primeira lua cheia que veremos depois desse tempo de verão, no dia da páscoa do Senhor. A partir da Páscoa todas as outras festas do calendário litúrgico serão situadas.

Se pensarmos então a partir deste tempo que o mundo ou a natureza nos oferece, logo perceberemos que  a liturgia está muito relacionado àquilo que estamos cercados, os ciclos do verão, do outono, primavera e inverno. Assim como também as situações que a natureza nos oferece podem ser trazidas para a liturgia. Estamos aqui falando de um tempo cósmico, de um tempo cosmológico, de um ciclo da natureza.

Se partirmos agora para outra ideia de tempo partiremos então para um tempo histórico que o Senhor nos dá

 Estamos, por exemplo, num tempo cronológico contado do ano de 2018. Este tempo cronológico é um tempo que marca a nossa história e o Senhor dá para nós como oportunidade de que à medida que caminhamos com Ele também tenhamos, pelos acontecimentos do tempo presente a oportunidade de vislumbrar o quanto Deus se faz presente em Jesus Cristo.

É deste tempo cronológico que a carta de São Paulo aos Coríntios nos fala hoje. Diz-se então que o tempo cronológico é abreviado, ou seja, ele é curto, pois temos ao longo de 80, 90 anos ou quem sabe 30, 20 anos a oportunidade de que experimentemos o Senhor que está caminhando conosco.

Vejam que o texto da segunda leitura fala que os que vivem neste mundo e tem mulher vivam como se não tivessem, os que choram como se não chorassem, os que estão alegres como se não estivessem alegres, e assim por diante. Tudo isso para mostrar que este tempo cronológico é importante.  Mas é uma etapa para vislumbrarmos um tempo maior, porque o tempo cronológico que Deus nos dá  é um tempo que podemos medir, temos uma medida de dias, de meses, de anos, de segundos, talvez até de milésimos de segundos, e podemos medi-lo como uma forma de aproveitarmos deste tempo favorável e abreviado que o Senhor nos dá.

Mas vejam, quando falamos deste tempo cronológico podemos pensar no tempo que para muitos é lento, mas é lento para aqueles que estão esperando algo. Pode se tornar rápido para aqueles que não têm medo. O tempo pode ser longo para aqueles que estão se lamentando, e ainda pode ser curto para aqueles que estão festejando. Mas o tempo se torna eterno para aqueles que aprenderam a amar.

O tempo cronológico, portanto, é um passo decisivo para que encontremos aqui na terra condições de experimentar o tempo eterno, o tempo de Deus. O que é então o tempo eterno? Podemos aqui parafrasear e trazer o texto conhecido por todos num diálogo daquele livro que conhecemos, Alice no país das maravilhas. Lembram quando Alice pergunta ao coelho: “quanto tempo dura o eterno? ” Ele responde: “às vezes um segundo”.

Realmente, o tempo eterno pode durar milésimos de segundos, e temos a oportunidade na liturgia de experimentar o que é o tempo eterno, e é este tempo que Jesus está anunciando no evangelho de hoje: o tempo já se completou e o reino de Deus que está próximo.

Mas como experimentar então este tempo que poderíamos chamá-lo Kairológico, o tempo do Senhor? Experimentaremos quando ao longo de um período, e aqui na primeira leitura há a marca deste período de quarenta dias, também experimentarmos um processo de conversão.

Foi necessário um tempo de quarenta dias para que Nínive pudesse se transformar numa cidade realmente reconstruída, um tempo de quarenta dias podem durar mais do que quarenta dias cronológicos. Que belo filme, e deixo como sugestão para que vejam , chama-se: “Prova de fogo”, um filme que fala a respeito das relações conjugais, e a oferta deste filme também é de um livro para que o casal possa experimentar o tempo de quarenta dias de renovação em que um pode fazer algo melhor para o outro. Mas chegarão aqueles quarenta dias e eles dirão: “não foram necessários só quarenta dias cronológicos, os quarenta dias contados, agora perpassam para a vida inteira. Ou seja, um processo de conversão que se torna contínuo, um processo de conversão que nunca acaba. E se Nínive converteu o seu coração, também neste tempo favorável podemos converter o nosso coração ainda mais, e neste ano de 2018 cronologicamente contado podemos experimentar ao longo de quarenta dias da quaresma um tempo de experimentar uma conversão, para chegar naquilo que Jesus diz no tempo que se completa e no anúncio de que o reino de Deus está próximo.

Se alguém perguntar a vocês se é possível resumir o texto de todo o evangelho de Marcos, podem responder de maneira bastante clara e sem dúvida nenhuma, o resumo do evangelho de Marcos encontra-se nesta frase que eu acabei de me referir, capítulo primeiro, versículo 15 do evangelho de Marcos: “o tempo já se completou e o reino de Deus está próximo”. 

Agora, se o tempo de Deus se completou e o reino está próximo de nós e estamos agora com o Cristo nos convidando à conversão, para que possamos crer no evangelho, como experimentaremos neste ano este olhar de Deus para conosco? Faremos isso à medida que escutarmos como os primeiros discípulos a voz do Senhor.

O texto do Evangelho, segue dizendo que Jesus começa a passar pelo mar da Galileia, como hoje está passando no nosso meio e vê Simão e André. Ele vê a cada um de nós, inclusive chama pelo nome: André, Tiago, João, Maria. Vê e convida para que possamos seguí-lo, neste tempo cronológico sim, mas, sobretudo para que possamos segui-lo para experimentarmos um dia um tempo que não passará, o tempo de estarmos na presença de Deus de maneira plena.

Jesus segue convidando outros, convidando para que deixem as suas redes, deixem as coisas do mundo e sigam a Ele. Caminha um pouco mais e continua a chamar, e esta é a expressão mais bonita do que é a Igreja, e do que a liturgia nos oferece neste tempo cronológico, a oportunidade de chamar outros para que venham participar desta alegria.

E assim, como os primeiros discípulos deixaram tudo e seguiram o Senhor no seu tempo histórico, hoje, no nosso tempo histórico também podemos seguir o Senhor.

A expressão que acabei de utilizar “hoje” é uma expressão proposital para concluir a reflexão acerca do tempo.  É uma expressão do aqui,  do agora e do ainda não. Como explicar então esta expressão, hoje, se realiza aqui o mistério central da nossa vida de fé e podemos experimentar, agora e neste momento, como estamos experimentando a presença do Senhor, mas ainda não, porque estamos nos preparando para que um dia vislumbremos o Senhor na eternidade.

Se esta expressão, hoje, que aparece tantas vezes na liturgia, é uma expressão que nos leva para o tempo do Senhor, o tempo Kairológico será bem vivenciado por todos nós.

Realmente com algumas palavras que daqui a pouco ouviremos da oração eucarística número 4, poderemos concluir esta reflexão sobre o Tempo.

Permitam-me ainda uma breve explicação. A oração eucarística 4 foi composta com belos elementos essenciais da história da salvação. Esta oração que hoje rezaremos, trará logo no início estas palavras: só vós sois o Deus vivo e verdadeiro que existis antes de todo o tempo e permanecereis para sempre habitando em luz inacessível.

Cristo ontem e hoje sempre esteve conosco e se no tempo que nos dá cronologicamente nos convida a uma conversão, é porque verdadeiramente Ele nos dará a oportunidade de o vislumbrarmos face a face pela sua grande misericórdia.

Cristo ontem, hoje e sempre, Senhor e  juiz da história, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém.

Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 19:00h do dia 20/01/2017. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original.

Escrito por: Pe. Maurício