SANTUÁRIO O PÁROCO PASTORAIS E MOVIMENTOS CAPELA IMC. CONCEIÇÃO LAR SÃO LUIZ NOTÍCIAS


Mt 18,15-20

15Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão.

16Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas.

17Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano.

18Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu.

19Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus.

20Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.


HOMILIA DO 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM

            “Não fecheis o coração, ouvi hoje a voz de Deus”, o refrão que acabamos de cantar faz parte do Salmo 94. Este salmo eu gostaria de indicar como uma leitura contínua para esta semana, para que pudéssemos abrir o nosso olhar pela manhã, percebendo assim o quanto as maravilhas de Deus estão presentes ao nosso redor e que Ele está caminhando conosco.

             Se tomarmos então o Salmo 94 como uma leitura cotidiana e até o primeiro dos salmos a ser lido logo pela manhã, estaríamos fazendo um elo de comunhão muito grande com a Igreja. A liturgia das horas, que acompanha a Igreja nos vários momentos do dia, propõe inclusive que ao iniciar o dia se cante, se reze, se coloque na presença de Deus por meio deste Salmo 94. Estou repetindo várias vezes para que possamos guardar, e desta forma repetirmos com o salmista: “Senhor, que o nosso coração, hoje, não esteja fechado, mas que possamos ouvir a voz de Deus”.

              Se assim fizermos, ao mesmo tempo em que nos colocamos na presença de Deus com o coração aberto, com os ouvidos abertos, com certeza perceberemos ao longo do dia, muitos sinais de Deus.

              Se fizermos isto a partir do que estamos celebrando nesta liturgia, logo perceberemos que a palavra que acabamos de ouvir, seja pelo salmo responsorial, quanto pela primeira leitura, segunda leitura e Evangelho, também, torna-se um grande convite para percebermos a voz de Deus.

             Tomemos, portanto, cada uma delas como referência, e comecemos pela parte final do Evangelho de Mateus.

           Hoje ele nos dá uma certeza de que aqueles que estão reunidos em comunidade (dois ou três reunidos formam uma comunidade) tem a presença do Senhor. A certeza da presença de Jesus é lembrada em três momentos no Evangelho de Mateus, no início, no meio e no fim.

          No início o Evangelho de Mateus fala que Jesus tem o nome de Emanuel, que significa: “Deus conosco”, Deus que caminha conosco.

             Hoje, praticamente no meio do Evangelho, no capítulo 18, diz o evangelista que o Senhor nos dá essa certeza mais uma vez, “quem estiver reunido em meu nome, eu estou ali, no meio deles”.

                Deus está conosco! E como se conclui o Evangelho de Mateus? Capítulo 28 no final Jesus diz: “eis que Eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos”. 

               Se em três vezes o evangelista nos lembra da presença de Jesus no seu Evangelho, é porque ele caminha junto com a Igreja, caminha junto a sua comunidade.

               A comunidade, a Igreja de Jesus, começa a ser formada e necessita também de alguns princípios norteadores.  Necessitamos como Igreja, como em uma pequena comunidade que pertencemos, na família que Deus nos deu, no trabalho que Deus também nos dá, naquele momento em que nos encontramos em um grupo religioso ou numa pastoral específica, de princípios norteadores que passam por um único mandamento: o mandamento do amor. Amar sem medida, amar a si mesmo, amar o próximo, amar a Deus, é neste princípio norteador do amor, que se insere neste capítulo 18 o tema da correção fraterna.

               Se alguém vê um irmão cair no pecado ou se desviar do caminho de Deus, o que deve fazer? Então, vejam que o evangelista nos fala a respeito do modo indicado por Jesus a seus discípulos de ajudar o outro a crescer, ou seja, de cuidarmos uns dos outros.

                 O Evangelho está nos falando do cuidado, mas prestemos atenção: cuidar dos outros não significa cuidar da vida dos outros ou da vida alheia. Aliás, hoje é muito fácil de fazer isso, basta entrar no Facebook ou Instagram, você fica cuidando da vida dos outros ao invés de cuidar da própria vida. Não é este o sentido, cuidar do outro significa estar do seu lado e, sobretudo quando há uma queda, há um pecado, ajudar esse irmão a levantar-se e fortalecê-lo neste princípio que se insere a correção fraterna.

            Corrigir o outro não significa julgá-lo. Corrigir o outro não significa condená-lo, como às vezes fazemos. Corrigir o outro significa viver o princípio do amor. E se alguém erra nesta comunidade que é a Igreja, o que deve ser feito?

                Se vê o teu irmão pecar, chama-o em particular e o ajude a crescer, de modo a que este seu irmão corrija-se pessoalmente. Assim você ganhou o teu irmão, e você ajudou o seu irmão a voltar neste caminho de salvação.  Se ele não te der ouvido, chama duas ou três testemunhas para que esta decisão seja fruto de duas ou três pessoas. Se mesmo assim este não der ouvido, qual é o próximo passo? Leve-o à Igreja, ou seja, chame alguém com discernimento, para que possa ajudar este a crescer. Só então, se este não der ouvidos as duas testemunhas e nem à Igreja, separe-o da comunidade, seja considerado um pagão público.

               Vejam a lógica que nos é passada hoje pelo Evangelho, para uma vivência comunitária sadia: corrigir pessoalmente, duas ou três pessoas, levar à Igreja, depois separação.

              Muitas vezes acontece que invertemos essa lógica: alguém errou, separa do grupo, separa da comunidade; alguém pecou, nem tenho a oportunidade de falar a ele o seu pecado, já tiro do meu convívio social.

               Esta inversão de valores não ajuda ninguém a crescer, não ajuda uma comunidade a crescer e, aliás, torna-se até, uma fonte inesgotável de tantas discórdias que podem acontecer junto a uma comunidade.

                Se o princípio norteador é o amor, somos levados por meio do Evangelho a também praticarmos o amor.

              Permitam-me usar esta imagem tão bonita que existe na profecia de Ezequiel, essa imagem deve ser levada por nós por toda a semana. Diz o profeta no seu tempo e para os nossos tempos: “quanto a ti, diz o Senhor ao profeta, Filho do Homem, eu te estabeleci como vigia da casa de Israel”. Se há aqui um profeta escolhido, é um profeta escolhido para ser vigilante, para ser uma sentinela, para cuidar da noite.

               Vejam que quando o Senhor nos dá o profetismo pelo batismo para sermos sinais da sua presença tornamo-nos profetas porque buscamos uma intimidade com Deus e estamos ligados a nossa realidade de mundo.

                Meus queridos, sejamos sentinelas da manhã, como tantas vezes o saudoso Papa São João Paulo II, convidou os jovens e convidou a Igreja a terem cuidado no anoitecer pelo seu irmão, mas que fossem aqueles que estivessem prontos pela manhã para anunciar o Cristo ressuscitado.

               Hoje, a imagem de um vigia que cuida da casa de Israel, torna-se até bastante visível, como aquele sentinela que fica a noite toda na escuridão cuidando para que ninguém entre e roube o necessário para que a casa de Israel seja sustentada, para que a Igreja seja sustentada.

              Portanto, também somos convidados a sermos sentinelas uns dos outros. Novamente repito a ideia: tenhamos cuidado pelo outro, mas um cuidado de carinho, de amor.

            E eis o princípio que São Paulo fala aos Romanos hoje, não fiqueis devendo nada a ninguém, mas, sobretudo amem-se uns aos outros. Amar o outro significa cuidar do outro. Amar o outro significa, se o outro pecou, eu vou ajuda-lo a levantar-se, amar o outro significa até mesmo uma grande arte que é a nossa vida, do cuidado para conosco e do cuidado para com o outro. 

      Que bela história é construída por nós cristãos, quando percebemos que não estamos caminhando sozinhos, estamos em uma comunidade, e este elo de comunhão em Jesus Cristo nos faz agora corresponsáveis uns para com os outros e esta corresponsabilidade é para que em nós se cumpra o verdadeiro mandamento de Jesus.

             O Amor, diz São Paulo aos Romanos, não faz mal a ninguém, o amor é o perfeito cumprimento da lei. Se realmente queremos crescer como cristãos e dentro de uma comunidade que é a Igreja, sejamos aqueles que buscam verdadeiramente amar aos seus irmãos, e em que momento? Todos os dias da vida.

             Por isso, a cada indicativa que a palavra de Deus nos dá, tomamos consciência que todos os dias se dá uma abertura do coração para ouvir a voz de Deus, se dá uma abertura do coração para que realmente Deus se faça presente nesta história. Aquele dia está aberto para verdadeiramente amar os seus semelhantes.

            Sejamos promotores do amor, sejamos sentinelas da manhã, cuidemos uns dos outros, para que um dia todos nós mereçamos a vida eterna.

Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 19:00h do dia 10/09/2017. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original.

Escrito por: Pe. Maurício