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Marcos 10,46-52

Naquele tempo,

Jesus saiu de Jericó,
junto com seus discípulos e uma grande multidão.
O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo,
estava sentado à beira do caminho.

Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno,
estava passando, começou a gritar:
"Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!"

Muitos o repreendiam para que se calasse.
Mas ele gritava mais ainda:
"Filho de Davi, tem piedade de mim!"

Então Jesus parou e disse: 

"Chamai-o".
Eles o chamaram e disseram:
"Coragem, levanta-te, Jesus te chama!"

O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus.

Então Jesus lhe perguntou:
"O que queres que eu te faça?"
O cego respondeu:

"Mestre, que eu veja!"

Jesus disse: 

"Vai, a tua fé te curou".
No mesmo instante, ele recuperou a vista
e seguia Jesus pelo caminho.


Homilia No XXX Domingo Do Tempo Comum.

Queridos irmãos e irmãs que participam da nossa liturgia dominical, presentes neste Santuário e também todos que acompanham a transmissão desse momento celebrativo.

Na conclusão de outubro, mês missionário, repleto de tantas atividades da Igreja, gostaria de destacar uma delas, dentre as que aconteceram em nosso Santuário: ontem tivemos uma “mostra da catequese” preparada pelas várias paróquias que compõem o nosso setor. Como foi bom! Aqueles que estiveram aqui no período da tarde puderam experimentar um pouco, junto com os catequizandos, a beleza de aprender quem era Jesus Cristo.

Aprendi muito sobre o Mistério do Rosário e também no momento em que alguns deles contaram a história de Carlo Acutis. Houve um catequizando que apresentou, de forma muito precisa, a parábola do Bom Samaritano. Mas quero compartilhar e relembrar a história do Evangelho de hoje, justamente para que catequizandos, catequistas e todo o povo se sintam parte integrante desta liturgia.

A história fala do encontro de Jesus com o Filho de Timeu. Vamos compreender um pouco este texto, que está repleto de muitos elementos. Em primeiro lugar, ele se encontra no Evangelho de Marcos e se passa em uma cidade chamada Jericó. Esta cidade, que existe até os dias de hoje, é considerada a mais antiga do mundo, um lugar que nunca deixou de existir.

Biblicamente, Jericó é conhecida no contexto do povo de Israel, que saiu do Egito e, antes de chegar à Terra Prometida, entrou na cidade após as muralhas caírem, abrindo-se para o Deus vivo e verdadeiro. Além do contexto bíblico, existe também uma tradição judaica que afirma que Jericó teria abrigado Adão e Eva. Embora isto não esteja nas Escrituras, é uma imagem da criação, sugerindo que, quando o pecado entrou no mundo, eles se refugiaram ali. Jericó continua a existir com grande simbolismo e está a apenas 25 km de Jerusalém – uma caminhada possível até a cidade santa. Ali, em Jericó, Jesus realizou seu último milagre, segundo o Evangelho de Marcos.

Ele narra que, ao sair de Jericó, uma grande multidão seguia Jesus e no meio do caminho aparece o Filho de Timeu: Bartimeu. É interessante notar que Marcos, ao narrar curas, geralmente não menciona os nomes dos curados. Por isto, alguns se perguntam: será que o nome dele realmente era Bartimeu? Outros baseiam suas pregações neste nome, mas, ao descobrirmos o significado, percebemos que Bartimeu é um anônimo. "Bar" significa "filho", e "Timeu" é o nome de seu pai. Portanto, ele ficou conhecido apenas como "Filho de Timeu". Era alguém sem identidade própria, alguém sem nome. Mas era conhecido por causa do pai, Timeu. Era cego e mendigo, e pensemos um pouco neste nome, que é um tanto incomum no nosso tempo, mas biblicamente, Timeu era um nome conhecido na época, talvez justamente porque as pessoas viam o cego e mendigo abandonado à beira do caminho e o identificavam como o "filho de Timeu".

Eis que ele ouviu falar de Jesus, o Nazareno, que estava passando, e começou a gritar. A expressão e o grito de socorro, repetido duas vezes, são muito profundos, pois revelam o desejo de encontrar a salvação. "Jesus", que significa "o nome que salva", é chamado também de "Filho de Davi", reconhecendo que Ele veio da descendência de Davi e que é a fonte de misericórdia: "Tem piedade de mim!"

A imagem deste homem que grita por socorro é a de alguém exilado no mundo. E o que é o exílio? É ser retirado de sua condição normal, de seu país, e levado para outro lugar.

Na história da salvação, o povo de Israel, que passou por Jericó e chegou à Terra Prometida, também experimentou o exílio. Com a invasão dos babilônios, os judeus foram levados para a Babilônia, vivendo anos longe de sua terra. Falo de exílio porque o cego e mendigo simboliza o ser humano que vive exilado, afastado de Deus.

A primeira leitura de hoje, do profeta Jeremias, relata o retorno do exílio, quando, após aproximadamente 50 anos, o povo foi libertado e voltou para Jerusalém. Durante este período, muitos ficaram refugiados, exilados, e agora estavam retornando.

O livro de Jeremias é repleto de louvor e gratidão. O salmo responsorial de hoje compartilha este sentimento: "Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria". Entretanto, nem todos voltaram do exílio. Alguns preferiram ficar na Babilônia, enquanto outros como cegos, aleijados, grávidas e parturientes, voltaram à sua terra. Deus, em sua misericórdia, reuniu esta diversidade de pessoas. Parece que a primeira leitura não tem relação direta com o Evangelho, mas nos prepara para entender que o cego e mendigo, o Filho de Timeu, representa muitos seres humanos que estão exilados e afastados da salvação, sem encontrar sentido para a vida.

Agora, retornemos à história do Evangelho. O grito de socorro do cego foi ouvido por Jesus, que parou e disse: "Chamai-o." Embora alguns tentassem calar o mendigo, incomodados com seus gritos no meio da multidão, Jesus insistiu: "Chamem-no". Ele poderia tê-lo chamado diretamente, como fez em outras ocasiões, mas preferiu contar com a ajuda das pessoas ao seu redor. Isto é significativo, pois revela o desejo de Jesus de incluir os seres humanos em sua missão. Ele quis que aqueles que estavam ali participassem do chamado ao cego e mendigo.

Assim, foram até ele e disseram: "Coragem, levanta-te, Jesus te chama!" Esta fala é uma lição para nós. O que dizer àqueles que ainda não encontraram Jesus Cristo? Nós o encontramos e estamos aqui para cultivar nossa espiritualidade, mas há muitos, até amigos próximos, que vivem exilados, afastados de Deus. O Senhor nos diz: "Chamem-no".

Ser missionário é ir ao encontro dos que sofrem e enfrentam duras realidades. O que dizer a estas pessoas? "Coragem, levanta-te, Jesus te chama!" Então descobrimos que os cegos e mendigos, abandonados pelo mundo, não estão apenas na condição de uma cegueira física. Jesus quer curar a cegueira espiritual. Ele quer curar o abandono de muitos filhos no mundo e conta conosco. Sim, catequizandos, catequistas e povo de Deus, cada um de nós, se conseguirmos ajudar alguém que está perdido no mundo a encontrar Cristo, cumpriremos nossa missão, e o batismo é verdadeiramente vivido: o batismo de Jesus Cristo. "Coragem, levanta-te! Jesus te chama!" Quem sabe, também nós, em algumas situações, não experimentamos um certo abandono de Deus.

E o cego, o que faz? Olha que interessante: ele joga o manto, dá um pulo e vai até Jesus! Jogar o manto talvez significasse abrir mão de tudo que tinha, pois ali, como mendigo, guardava um pouco de alimento ou algumas moedas que recebia. Deixar tudo é necessário para encontrar Cristo. Tudo neste mundo é passageiro, até mesmo o conforto e os bens materiais.

Vejam, catequizandos, crianças, adolescentes e jovens: ele larga tudo e dá um pulo! Como pode alguém, cego e mendigo, pular de repente ao ouvir o chamado? Ele poderia ter levantado devagar, tateando ao seu redor, mas não: ele escuta o chamado e corre ao encontro do Senhor. Esta é uma imagem belíssima de Jesus exercendo seu sacerdócio.

O tema do sacerdócio de Cristo é abordado na segunda leitura de hoje, na Carta aos Hebreus. Jesus assume um sacerdócio em favor de todos. Ele é o Bom Samaritano, aquele que acolhe o cego e realiza muitos sinais de misericórdia.

A Carta aos Hebreus nos diz que Jesus pertence a uma ordem sacerdotal diferente: a ordem de Melquisedeque. Ele não fazia parte da ordem de Arão, que era a dos sacerdotes comuns, mas de uma ordem mais antiga. Melquisedeque, citado no livro do Gênesis, inspira um verdadeiro sacerdócio, e é este sacerdócio que Cristo exerce.

Jesus quis que este sacerdócio continuasse no mundo, mesmo após sua morte. Como? Escolhendo homens do meio do povo e os instituindo como sacerdotes em favor das coisas que se referem a Deus. Este é o tema de hoje: "Todo sacerdote é tirado do meio do povo".

Assim também eu e tantos outros irmãos assumimos esta missão. Como sacerdotes, precisamos aprender com Jesus a ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, pois também estamos cercados de fraquezas. Somos fracos diante das fragilidades e do pecado, mas abertos para que Deus haja em nós, assim como agiu na vida do filho de Timeu.

Então Jesus faz uma pergunta aparentemente óbvia ao cego: "O que queres que eu te faça?" Ele estava cego e mendigo! Mas Jesus respeita nossa liberdade. O cego poderia ter pedido apenas alimento ou uma condição material melhor. No entanto, ele faz um pedido maior: "Mestre, que eu veja!" Ele não era cego de nascença, mas se tornou cego pelas circunstâncias da vida. Ainda assim, ele expressa um desejo profundo: "Mestre, que eu veja!" E Jesus responde: "Vai, a tua fé te curou."

Assim como o cego foi curado também precisamos vencer nossas cegueiras espirituais e superar o abandono deste mundo. Jesus nos ensina que a cura vem da fé e que a liberdade é essencial, pois Ele nunca obrigou ninguém a seguí-lo. A identidade do cristianismo é justamente essa: ninguém é obrigado. Mas, de livre vontade escolhemos por Cristo.

Ele diz: "Vai." Ou seja, "Pode ir para onde você quiser, a tua fé te curou". E o que acontece? No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho. Este momento é precioso, pois quem foi curado não tem, na verdade, outra alternativa senão seguir o Mestre.

Não há notícias bíblicas mais claras sobre o filho de Timeu, mas é evidente que ele acompanhou Jesus até Jerusalém e pôde testemunhar o mistério da Paixão e da Ressurreição, compreendendo o quanto Deus quer salvar a humanidade.  Também nós em nossa vida tão propensa a erros e cegueiras espirituais, e alguns, infelizmente, sofrendo com a cegueira física, nunca devemos perder a esperança.

Gritemos pelo Senhor! Ele nos tira do exílio da vida e devolve esperança a cada um de nós. Ele quer que o sigamos. E que assim seja no decorrer de toda a nossa vida, para que nunca desistamos do caminho do discipulado. Como discípulos do Senhor, devemos sempre reconhecer Jesus como nosso único Mestre e Senhor. Assim seja. Amém.

Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 10:30h do dia 27/10/2024. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original

Escrito por: Pe. Mauricío