Marcos 10,35-45
Naquele tempo,
Tiago e João, filhos de Zebedeu,
foram a Jesus e lhe disseram:
"Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir".
Ele perguntou:
"O que quereis que eu vos faça?"
Eles responderam:
"Deixa-nos sentar um
à tua direita e outro à tua esquerda,
quando estiveres na tua glória!"
Jesus então lhes disse:
"Vós não sabeis o que pedis.
Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?
Podeis ser batizados com o batismo
com que vou ser batizado?"
Eles responderam: "Podemos".
E ele lhes disse:
"Vós bebereis o cálice que eu devo beber,
e sereis batizados com o batismo
com que eu devo ser batizado.
Mas não depende de mim conceder
o lugar à minha direita ou à minha esquerda.
É para aqueles a quem foi reservado".
Quando os outros dez discípulos ouviram isso,
indignaram-se com Tiago e João.
Jesus os chamou e disse:
"Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem
e os grandes as tiranizam.
Mas, entre vós, não deve ser assim:
quem quiser ser grande, seja vosso servo;
e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos.
Porque o Filho do Homem
não veio para ser servido, mas para servir
e dar a sua vida como resgate para muitos"
Homilia No XXIX Domingo Do Tempo Comum.
Queridos irmãos e irmãs aqui presentes e também todos que nos acompanham, neste momento, por meio da transmissão por nossos canais de comunicação. A liturgia de hoje é do 29º domingo do tempo comum, missa votiva por ocasião de um sínodo, que está sendo realizado pela Igreja, no mundo inteiro. Esta convocação foi feita por meio de um pedido do Papa Francisco que no último domingo, para o mundo inteiro, colocou-nos diante desta realização.
E a liturgia da palavra, de alguma forma é como uma resposta para nós, quando somos indagados sobre o que é este sínodo, ou o porquê que a Igreja realiza esta reunião.
Para entendermos bem precisaríamos de um tempo maior. O que vem a ser essa convocação? É necessário compreendermos que, desde o princípio, a Igreja também procurou ser governada por homens, por mulheres, e especialmente pelos apóstolos. Estes sentiam que era preciso discutir determinadas situações do seu tempo e sempre houve uma convocação especial, e grandes convocações da Igreja chamadas de concílios. Já foram realizados 21 concílios da Igreja, o último sobre o qual estamos vivendo é o Concílio Vaticano II, o segundo que foi realizado na cidade do Vaticano entre 1962 e 1965.
Poderíamos entender que um sínodo é uma forma de convocação. Na expressão sinodal existe a expressão de sínodos realizados de maneira ordinária. Este que estamos fazendo é ordinário, o 16º, e outros que são convocados de maneira extraordinária ou especial, como já aconteceu para a nossa região Amazônica, ou toda a região Amazônica.
Deste modo, compreendemos que haverá uma etapa muito importante e esta é a novidade Sinodal. O Papa Francisco quis realizar esse sínodo em primeiro lugar, dando espaço e querendo ouvir os vários níveis, a nível diocesano e continental, para que, quando chegar o ano de 2023, na realização concreta desse sínodo, as angústias, os pedidos, e porque não dizer, o rosto do nosso mundo ou a expressão do povo cristão esteja também na realização deste momento histórico.
É assim que somos convidados a contemplar hoje a liturgia da palavra. Poderíamos fazer várias leituras, mas eu gostaria que guardássemos o rosto de Cristo, que é uma expressão histórica.
Somos convidados, por meio da liturgia, a ter o nosso olhar no rosto do Cristo servo, o rosto do Cristo que é o servo sofredor, profetizado por Isaías. Existem quatro cânticos do servo sofredor no profeta Isaías. Este é o quarto cântico que traz justamente esta expressão do profeta, que previa um homem ou servo, que faria justos inúmeros homens, carregando sobre si as suas culpas.
É a imagem tão bonita do profeta Isaías que Jesus assume. Assumiu a nossa condição humana, assumiu as nossas fraquezas e se fez servo, o servo sofredor, o servo do Senhor. E, algumas vezes, fez uma alusão como o Filho do homem, quem sabe para dar a conotação da expressão, que está muito presente em Jesus, da sua humanidade.
O Cristo servo, o Cristo que se coloca a serviço dos seus, é também aquele que é seguido pelos discípulos, que compreenderam o que é este chamado, mas não compreenderam na totalidade qual é a missão do Senhor, pelo menos na parte que hoje identificamos no Evangelho, quando trata segundo São Marcos, da situação em que Tiago e João, discípulos tão próximos de Jesus, fazem um pedido diante do Senhor: “Mestre, queremos que faça por nós o que vamos pedir, deixa-nos sentar um à direita e outro à tua esquerda quando estivermos na glória”.
O próprio Jesus deixou muito claro, desde o início, para os seus discípulos, como deixa para nós também de maneira muito evidente, no anúncio e por três vezes faz isto, falando da sua paixão. Qual é a condição do seguimento? Imitar o Cristo que se faz servo, e no anúncio da paixão Jesus diz: que este servo irá enfrentar o sofrimento, a morte e que ressuscitará.
Ele tinha acabado de anunciar novamente isso para os discípulos e, de repente, qual é a surpresa? Aqueles que foram chamados não compreenderam nada do que é esse seguimento. Estavam preocupados com um lugar de destaque, um lugar à direita ou à esquerda, e Jesus mostra como é o caminho do discípulo.
É claro que os outros dez discípulos ficaram com ciúmes, até se indignaram com Tiago e João, e Jesus então aproveita a ocasião para ensinar os doze dizendo o seguinte: pode ser que muitos esperam um reino glorioso, na forma humana, de estar junto com o rei que imperará neste mundo, mas o que eu lhes apresento é a condição daquele que veio para servir, o servo sofredor. E, portanto, se querem ser meus discípulos assumam também o avental do serviço, quem quer ser primeiro que seja o escravo de todos, por que o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate para muitos. É essa a lição que Jesus passa para os seus discípulos e nos ensina, pois quantas vezes queremos honrarias neste mundo. O Senhor está dizendo que é preciso abraçar sempre o serviço.
Essa imagem, e este é o rosto do Cristo, mas para que não fiquemos somente com esse rosto, há hoje, a imagem do rosto do Cristo que é Deus. Imagem esta que encontramos na segunda leitura, continuidade da Carta aos Hebreus: temos o Cristo servo, mas temos também um sumo sacerdote eminente que entrou no reino do céu, Jesus o Filho de Deus.
Por isso, encontramos o rosto humano de Cristo, mas ao mesmo tempo seu rosto Divino, e o convite para que permaneçamos firmes na fé. Ao mesmo tempo em que professamos o Cristo Vivo ressuscitado somos convocados como discípulos, a abraçar o serviço como o Senhor pede para nós.
O Papa Francisco insistirá ao longo desse período, e a Igreja tem essa insistência, de uma Igreja sinodal, que ouve e que escuta. Uma Igreja onde pode haver participação, uma Igreja como expressão de comunhão, mas uma Igreja, sobretudo missionária, uma Igreja que conta com os batizados.
Não basta sermos do número dos batizados que se dizem católicos, é preciso mais do que isso. O tempo urge o testemunho de cristãos católicos que levem adiante, e que estejam sempre prontos para mostrar o rosto de Deus nesse mundo, especialmente a aqueles que mais necessitam.
De fato, servir ao Senhor não tem tempo e não há um lugar específico. O tempo é sempre o tempo que Deus nos dá. Por isso vou insistir, é preciso servir. Que tarefa bonita tem o Papa que poderia estar em um tempo de descanso, mas o Papa Francisco assumiu o pontificado depois dos 70 anos, Bento XVI também depois dos 70 anos, uma longa missão e a missão pesada de carregar a cruz de Cristo.
Por isso não tenhamos medo, e não pensemos que não podemos fazer mais nada pelo mundo e pela Igreja. A idade não nos impede. É preciso servir desde pequenos até o momento que o Senhor nos chama para a vida eterna. Que seja esta nossa prática, e que o Espírito Santo nos conduza para nos deixarmos guiar por esse Espírito que vivifica, e que conduz a nossa Igreja.
Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 10:30h do dia 17/10/2021. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original
Escrito por: Pe. Mauricío