Marcos 13,24-32
Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: 24“Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer e a lua não brilhará mais, 25as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas. 26Então vereis o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. 27Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus de uma extremidade à outra da terra. 28Aprendei, pois, da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto. 29Assim também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Filho do homem está próximo, às portas. 30Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isso aconteça. 31O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. 32Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”. –
Palavra da salvação.
Homilia Na Solenidade Da Assunção De Maria
Caríssimos irmãos e irmãs presentes neste santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, e quero também saudar a todos que acompanham a transmissão da nossa missa dominical. Hoje, a solene liturgia da Assunção de Nossa Senhora ao céu, lembra-nos o 15 de agosto, dia que, em muitos lugares, se celebra com toda honra o mistério da vida de Maria Santíssima. No nosso caso, há uma transferência para o domingo seguinte, de forma que todos possam participar de maneira mais ativa da celebração, de Maria, mãe de Jesus e nossa mãe.
Poderíamos, quem sabe, hoje começar esta breve meditação nos perguntando: qual é o lugar de Maria na história da nossa salvação? Inúmeras respostas podem surgir em meio às indagações. Tenho certeza de que uma delas já se remete ao sentido principal daquela que intercede pelo seu povo. Maria, tantas vezes na história da salvação e na Igreja, agiu em favor do seu povo. Ela jamais quis ocupar a centralidade da salvação, porque a centralidade é de Jesus. Ele é o mediador entre o céu e a terra; é o Cristo que nos traz a salvação no mistério da sua paixão, morte e ressurreição.
Mas para que tudo isso acontecesse, Deus escolheu uma mulher. A esta mulher foi dada a missão de, como Arca da Aliança, guardar o próprio Salvador. Que grande mistério já acontece desde o momento da encarnação!
Ouvimos hoje, na primeira leitura, o texto do Apocalipse de São João, referindo-se a uma arca, e esta Arca da Aliança se abre. Pois bem, Maria é a nova Arca da Aliança. O que é a arca? Ela continha a lei de Moisés e, por meio da lei, um caminho para a eternidade, para o céu, segundo a tradição de Israel.
Maria carrega o Salvador, que dá pleno sentido a esta lei e, portanto, um dos títulos que damos a Maria é justamente esse: a Arca da Aliança. Ela carregou no seu ventre e, assim, também santificou a forma mais concreta de Deus agir na história humana, por meio da maternidade.
“Feliz aquela que acreditou”, diz o texto de hoje, na narrativa de São Lucas, no sublime momento do encontro entre Maria e sua prima Isabel. Maria foi a primeira que acreditou. Acreditou que Deus poderia salvar a humanidade no mistério da encarnação do seu Filho. Ela foi a primeira e, hoje, foi proclamada, segundo o evangelho, por sua prima Isabel, como bem-aventurada.
Antecipou-se, portanto, uma bem-aventurança para aquela que foi escolhida. E diante deste grande mistério, eis que Maria pronuncia um dos hinos mais profundos que existem na Sagrada Escritura. Este hino, o conhecemos como o Magnificat, comum no seu tempo como ato de agradecimento a Deus pela benevolência, pela misericórdia de Deus, mas singular quando brota do coração daquela que foi escolhida.
O hino cantado, o Magnificat, é a expressão de um coração que sabe agradecer. Por isto mesmo, a Igreja consagra o seu tempo e a história e, no momento da oração vespertina, na oração da tarde, todos os dias reza este cântico de Maria, o Magnificat.
Hoje, proclamado no texto de São Lucas, este hino nos ensina algo: se precisamos agradecer algo a Deus, façamos do Magnificat uma oração cotidiana. Pois é preciso sempre voltar o coração para Deus em meio a tantas situações que enfrentamos no mundo, e em vista de enfrentar com muita fé.
Este cântico do Magnificat está expresso neste lado da igreja, do meu lado esquerdo, mas que é o lado direito de vocês. Os vitrais deste lado contêm as mulheres bíblicas, desde Eva até Maria. Portanto, quando pronunciamos o nome de Maria e dizemos "Ave", é um contraponto a Eva. Estamos saudando Maria, inclusive, porque sabemos da importância que tem Maria na história da salvação como uma grande mulher. Se Eva é a primeira mulher, Maria por meio do seu "sim", santifica toda a maternidade e é a expressão das várias mulheres bíblicas que estão aqui identificadas.
É uma pena que de noite não seja possível visualizar. Mas para quem conhece a igreja sabe que até mesmo os anjos têm uma outra postura deste lado. Os anjos têm a forma de um louvor, porque, na oração da manhã, as mãos estão abertas. Do outro lado, as mãos estão como que postas, em sinal de agradecimento. E lá, na última parte do vitral, quando se vê os lírios, é a expressão do cântico do Magnificat.
Desta forma, o lado direito do santuário sempre nos leva até Maria. "À vossa direita se encontra a rainha", como cantávamos hoje pelo salmo responsorial. Temos um altar fora do presbitério dedicado a um título de Maria, Mãe de Lourdes. Mas no mistério da sua Assunção, é preciso saber, e alguns chegam a perguntar: onde estão os mistérios gloriosos desta igreja? Porque todos os outros estão na expressão destes quadros que acompanham.
Os mistérios gloriosos estão aqui no presbitério: é evidente a Ressurreição do Senhor, é evidente a sua Ascensão ao céu, torna-se evidente o terceiro mistério glorioso, o mistério de Pentecostes, da vinda do Espírito Santo. É também evidente o mistério de Maria assunta ao céu, com seu coração que é um coração imaculado, e Maria coroada como rainha do céu e da terra está bem próxima, nesta imagem que está logo ao lado do nosso presbitério.
Portanto, estamos congregados em todo o nosso santuário dentro dos mistérios que rezamos do Santo Rosário. Felizes aqueles que descobriram o valor de uma Ave Maria, pois sabem que pronunciar uma Ave Maria remete a um grande mistério de fé.
São Bernardo de Claraval chegou a afirmar — e veja que estamos falando de um grande santo, mestre na humildade, mestre na pregação — e ele mesmo disse: "Eu converti muito mais pessoas por uma Ave Maria do que por meio das minhas pregações".
É grande o mistério de uma Ave Maria bem pronunciada. E no centro não há idolatria nenhuma, porque no centro da oração dizemos: "Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus", aquele que nos dá salvação.
É este o mistério que celebramos: Maria que nos coloca diante de Jesus. E Maria, hoje, assunta ao céu de corpo e alma. Não há vestígios do seu corpo na terra. E claro, evidente, que não há também o de Jesus, porque Ele ressuscitou e subiu ao céu. Maria também foi assunta ao céu em corpo e alma. E este mistério é diferente no que se refere aos outros santos, pois para os outros santos até há um lugar de veneração, um lugar para veneração das relíquias, como o corpo de São Pedro, por exemplo. Há santos cujo corpo não se corrompeu, mas a grande maioria daqueles que têm fé terá o seu corpo danificado por causa da morte e sofrerá a corruptibilidade da carne.
Mas hoje é uma grande resposta a Assunção de Maria ao céu para os momentos em que nós tememos a morte. No texto da primeira carta de São Paulo aos Coríntios encontramos o seguinte: "Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Ele, em primeiro lugar, e depois, por meio dele, todos nós".
Portanto, se por meio de um homem veio a morte, Adão, por meio de um homem veio a salvação. Cristo nos traz esta salvação. Em primeiro lugar, Jesus Cristo que ressuscitou. E quis o Senhor, o próprio Deus, levar para junto de si aquela que foi escolhida. É este o mistério que celebramos hoje: Maria assunta ao céu em corpo e alma, e o seu corpo não sofrendo a corruptibilidade da carne.
Celebramos tudo isto não como uma imposição da Igreja. Não pensem que é assim, porque nunca o foi. Para os que pouco estudam, até podem afirmar: como posso pensar num dogma que a Igreja proclamou? Mas a Igreja proclamou dogmas em vista da vida reconhecida na Igreja em favor daquele dogma.
Por exemplo, este é o último dogma da Igreja: a Assunção de Maria ao céu, foi feito pelo Papa Pio XII em 1950, mas a festa de hoje é muito mais antiga, é desde os primórdios.
Contudo, quis a Igreja proclamar para sempre este dogma, depois de consultar todo o mundo. O Papa Pio XII enviou perguntas para os bispos e, antes mesmo de proclamar este dogma de fé, recebeu inúmeras respostas e, de maneira muito surpreendente, o Papa recebeu a resposta de que no coração do povo já estava esta grande devoção de que Maria foi elevada ao céu em corpo e alma. Então o Papa proclamou, de forma que isto não se discuta mais, mas que se viva a partir deste mistério. E é um dos mistérios, o quarto mistério glorioso, quando contemplamos Maria que está no céu em corpo e alma.
Finalmente, eis o nosso grande destino: também, um dia, chegar ao céu, e Maria já está à frente para nos preparar. Até damos um título a ela: Porta do Céu, porque ela intercede, tenho certeza, por muitos.
Quando lá chegarmos e no dia em que partirmos deste mundo, sofremos o primeiro julgamento, a nossa alma vai ao encontro de Deus. Permito-me aqui uma catequese muito breve: o corpo que repousa deve ser tratado com seus cuidados e com apreço. Quando rezamos pelos entes queridos, não estou aqui para ferir alguém, mas é preciso manter o cuidado e a visita a um cemitério.
Mesmo que a Igreja hoje permita a cremação, é necessário que as cinzas não sejam jogadas em qualquer lugar e nem espalhadas. O corpo deve ser depositado num lugar adequado, seja na igreja ou no cemitério, para que, no último dia, também ressuscite. De que forma? É Deus quem vai fazer, não sabemos, mas o nosso corpo há de ressuscitar. Nossa alma, no dia da morte, já vai para o céu, mas no último dia do julgamento, o nosso corpo perecível também será transformado e estará glorioso diante de Deus. Por isto, devemos ter apreço e cuidado, e devemos rezar pelos entes queridos para que encontrem a luz e a paz.
Aliás, é comum dizermos que a morte pode até ser física, mas para aqueles que amamos, jamais a morte acontece, porque nunca esquecemos. Mantemos em nosso coração uma pessoa que conviveu conosco e mantemos um elo de comunhão, o que chamamos de comunhão dos santos.
Para aqueles que já encontraram a salvação, ou mesmo que estejam no purgatório, nossa oração pode ajudar para que se purifiquem e encontrem a luz e a paz.
Mantenhamos nossa comunhão, com certeza, por meio de Maria, para que assim também a nossa comunhão com aqueles que partiram seja a melhor resposta para que a nossa vida também tenha uma direção. Somos direcionados para o eterno, fomos feitos para o céu, e isto Maria nos dá como exemplo no mistério da sua Assunção.
Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 10:30h do dia 18/08/2024. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original
Escrito por: Pe. Mauricío