Mc 6, 7-13
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas. Disse-lhes também: «Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles». Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram muitos demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos.
Palavra da salvação.
HOMILIA NO XV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Caríssimos irmãos e irmãs presentes no Santuário neste dia dedicado ao Senhor, e outros que acompanham a transmissão desta missa dominical. Celebramos o XV domingo do tempo comum e é bom sempre nos referirmos a este tempo como um tempo de escuta do ministério público e de tudo o que Jesus viveu durante o tempo em que anunciou um novo reino.
Temos seguido, ao longo deste período, o Evangelho segundo Marcos, o primeiro a ser escrito. Nos encontramos no capítulo sexto e, precisamente hoje, no momento em que Jesus chama os doze e os envia em Missão.
É preciso fazer uma leitura bem eclesiológica de tudo o que ouvimos enquanto palavra de Deus, pois já é um pré-anúncio, neste momento da Igreja, tão querida por Cristo, depois da ressurreição. O próprio Senhor confia esta tarefa no envio do Espírito Santo para que os discípulos propagassem a boa notícia de que Cristo venceu a morte e ressuscitou para sempre. Esta boa notícia, com certeza, torna-se um Evangelho vivo pela Igreja instituída por Cristo.
Contudo, nos encontramos ainda no ministério público de Jesus, e quis o Senhor já prever algumas características daquele anúncio profético dos seus discípulos. Assim, o Senhor chama cada um pelo nome e os convoca para que pudessem segui-lo, tornando-se discípulos. Agora, Ele não só quer que os discípulos experimentem e possam configurar-se ao mestre, mas o próprio Jesus confia a tarefa de ir pelo mundo e pelos arredores anunciando este evangelho vivo, anunciando que o Reino de Deus está próximo.
Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 10:30h do dia 14/07/2024. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original
Que beleza é a missão que Deus tem para cada ser humano. Ele poderia realizar de inúmeras formas a salvação de cada um, mas quis contar com a nossa história. Deus quis contar com aqueles doze escolhidos, assim como com inúmeros profetas no Antigo Testamento, sinais de Deus. E vejam como é bonito perceber esta escolha pelo texto da Carta de São Paulo aos Efésios, um hino cristológico. O que isto significa? Um hino de louvor a Jesus Cristo e a um momento em que São Paulo ressalta a escolha que Deus faz a cada um de nós. Diz o texto: "Segundo o projeto daquele que conduz tudo conforme a decisão de sua vontade, fomos predestinados a sermos para o louvor de sua glória os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo”.
Que profundas são estas palavras, porque há uma escolha, há um projeto de Deus, e este projeto na história da salvação conta conosco. Embora sejamos instrumentos tão frágeis, propensos ao pecado, não muito diferentes daqueles que caminhavam com o Cristo e se tornaram os primeiros discípulos. E nesta mesma caminhada o Senhor quis configurá-los de tal forma que pudessem testemunhar a presença de Deus. Agora em um envio, por isso chama de dois em dois, dá-lhes o poder de curar muitos doentes e especialmente um poder em que a força do maligno não impere na vida destes apóstolos.
Há, portanto, uma constituição apostólica. Quando falamos a palavra apostolado, nos referimos a uma missão. Por isto, Apóstolo significa enviado, e é um estágio posterior ao discipulado. Quando nos tornamos discípulos de Cristo, nos tornamos porque ouvimos falar e conhecemos um pouco desta realidade. E desde o batismo somos discípulos do Senhor, mas há um momento, na precisão da Igreja, do Sacramento da Crisma, em que cada um recebe uma missão. O batismo se concretiza em um apostolado, em uma missão dentro e fora da Igreja, em um mundo que tanto necessita do testemunho cristão. É desta forma que os discípulos se tornaram Apóstolos, porque enviados ao mundo foram os primeiros.
Até hoje, dizemos que a Igreja é presidida localmente por um verdadeiro Apóstolo do Senhor, enviado neste mundo, sucessor legítimo dos Apóstolos na característica principal do Bispo que preside a Igreja ou do Papa, que preside a Igreja, de modo universal, no mundo inteiro.
Mas não cabe só ao Papa, aos Bispos, aos Sacerdotes, aos ministros ordenados a tarefa de um apostolado, cabe a cada batizado também desempenhar esta missão, porque, volto novamente a São Paulo, fomos escolhidos. Há uma predestinação. De antemão já experienciamos Cristo e colocamos a nossa esperança no Senhor.
E é assim que os discípulos, tornando-se Apóstolos, recebem algumas recomendações que não têm validade só para aquele tempo, mas servem como referência para nós enquanto discípulos missionários neste mundo.
O que tanto a Igreja nos pede? Uma das recomendações se refere à simplicidade e humildade que acompanham o discípulo. É interessante pensar sobre isto, porque Jesus recomenda que não levem nada pelo caminho a não ser um cajado, porque precisarão caminhar e caminhar muito, precisarão passar muito pelo mundo fazendo o bem, mas não levem muita coisa. O que esta recomendação tem a ver conosco? Também não precisamos de muita coisa, precisamos do essencial. Deus nos dá possibilidade e, graças a Deus, pelo trabalho, podemos ter uma boa alimentação, podemos ter um lugar para dormir, para morar. Podemos ter, pelo trabalho digno, condições de ajudar outras pessoas, e é desta forma que o lembrete do Senhor está a nos indicar que precisamos do essencial. Serve para mim, mas serve também para todos os discípulos do Senhor enviados no mundo.
Precisamos cuidar para não termos e, se aquilo que temos está sobrando, é porque falta para alguém. O frio que experienciamos na semana que passou com certeza vem a nós como uma lembrança de tantas pessoas que precisam e, se tem algo que podemos ajudar, ajudemos. Mantenhamo-nos em missão com aquilo que é essencial.
Há uma outra recomendação: mandou que andassem de sandálias. E andar de sandálias significa ter até um certo cuidado em uma região quente, com tudo o que precisa ter enquanto cuidado para que a peregrinação, o caminhar, seja adequado. As sandálias são a expressão viva de uma Igreja a caminho. Mas, aliás, quando falamos em Igreja a caminho, logo lembramos de por que o Senhor escolheu dois e não mandou separadamente um sozinho. Porque o Senhor quer contar minimamente com uma comunidade orante, com a Igreja.
Para ser Igreja, não fazemos comunidade se não estivermos unidos. Como agora, próximos do Senhor, é excelente os momentos, é propício que cultivemos uma espiritualidade pessoal. As nossas orações pessoais são de grande valia, mas se não nos conduzem para uma vida comunitária, ficam em um isolamento. Para ser comunidade, é preciso caminhar com alguém do lado, até porque não anunciamos em nome próprio, fazemos em um discernimento do espírito em nome do Senhor, junto com outro que caminha conosco. É a expressão de uma Igreja a caminho e de uma Igreja que se dá a partir da assistência do tempo presente enquanto Igreja Missionária.
Agora, há outras recomendações interessantes. Jesus diz que quando eles entrarem em uma casa devem ficar até a partida, e ainda diz: "não fiquem perambulando de casa em casa". Então, talvez seja pelo fato de que os discípulos pudessem experimentar o que é estar junto a uma família em um determinado tempo e no cotidiano de uma família. É fácil fazer uma visita, experimentar um dia festivo na família, e geralmente, quando um discípulo chega, um Apóstolo do Senhor, é um dia festivo. Quando um Padre chega em uma casa, se oferece geralmente o melhor. Imagine se ficar perambulando de casa em casa. É preciso também experimentar as amarguras e, quem sabe, aquilo que cotidianamente uma família experimenta, pois há uma insistência do permanecer com o Senhor e também insistir nesta presença comum junto a uma família.
Ainda há uma outra recomendação que chama a atenção: "Se em algum lugar não vos receberem nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés como testemunho contra eles." Interessante esta consideração. Quer dizer que o Senhor está orientando os discípulos de que, se aqueles que não ouvirem não se preocupem, podem até sacudir a poeira dos pés como testemunho contra eles porque não escutaram a vós, mas também para dizer: "deste lugar eu não levo nada para minha missão que continua". É interessante esta consideração, ainda mais para saber que Jesus não quer que os discípulos forcem alguém a segui-lo, a seguir como discípulos do Senhor. Há uma liberdade de escolha, mas principalmente que haja o testemunho.
Chegamos no final. Os discípulos partem em missão, pregam a conversão de vida, e além de pregar, acontece na vida dos discípulos o que o Senhor realmente prometeu. Eles têm poder dado por Jesus de expulsar os demônios e muitos que estavam agora tantas vezes levados pelo maligno são libertados pelos discípulos que se tornaram apóstolos. E, pela força de Deus, enquanto batizados e enviados no mundo, temos uma força que é capaz de vencer o maligno, que é capaz de deixar as coisas do mal de lado para seguir o Senhor. Pena que nem sempre temos consciência desta realidade, mas enquanto profeta, sacerdote e rei, recebidos esses dons do Santo batismo, também há condições de vencer o mal.
Ainda é possível perceber o que Jesus pensa para a sua Igreja. Os discípulos apóstolos, agora enviados, curavam numerosos doentes ungindo-os com óleo. É uma prefiguração do que a Igreja institucionaliza como o sacramento da unção dos enfermos. E neste mês de julho, muito providencial rezarmos por aqueles que passam por enfermidades, e o Papa nos pede na intenção geral que não só rezemos pelos enfermos que não estão firmes para que voltem à firmeza de vida, mas também por aqueles que cuidam dos enfermos.
Enfim, meus irmãos e irmãs, seguindo estas recomendações do Senhor, poderíamos nos perguntar: "Mas será que tenho condições de fazer tudo isto?" Pensemos um pouco naqueles doze escolhidos. Se não estivessem caminhando com o Cristo e não confiassem na providência de Deus, nada aconteceria. Não estamos totalmente preparados para a missão no mundo, mas o importante é anunciar e falar de Jesus, é nos sentirmos também no nosso apostolado protagonistas do tempo presente.
Por isto, quero concluir com a primeira leitura de hoje, um belo texto do profeta Amós. Amós também experimentou, como muitos dos discípulos de Jesus, como muitos profetas também que seguiram a Deus no Antigo Testamento, aquela fragilidade. Fragilidade na escolha: como posso anunciar, como posso falar de Deus, como o Senhor me escolheu enquanto profeta? Ele até não foi aceito em Betel. Foi enviado por Deus a Betel, onde lá era presidido por um sacerdote chamado Amazias, e o próprio Amazias disse: "Mas Amós, aqui não é teu lugar, já há um profetismo aqui." E ele diz: "Vá para outro lugar, vá para Judá, lá profetize, lá você pode ganhar o pão para sustentar sua profecia, mas aqui em Betel não insista em profetizar." E então Amós responde: "Não sou profeta, eu não sou filho de profeta, não tenho uma descendência, eu sou um pastor de gados, sou um homem simples, cultivo sicômoros, uma espécie de árvore. Mas quem me chamou foi o Senhor, e se o Senhor me chamou enquanto eu tangia o rebanho, foi o Senhor que me deu força, e o Senhor disse: 'Vai, Amós, profetiza para Israel todo, para todo o meu povo'." Então Amós concretiza a sua missão.
A nós o Senhor dá condições sempre de um profetismo, como dizia domingo passado, um profetismo autêntico, desde que acolhamos esta mensagem. Continuemos nossa caminhada de discípulos do Senhor e jamais duvidemos que a presença no mundo será marcante de cada cristão à medida em que testemunharmos Jesus Cristo vivo e ressuscitado. Que Deus nos ajude, que o exercício do profetismo seja a melhor forma de seguirmos o Senhor e de nos tornarmos também firmes na nossa vida e no apostolado que o Senhor nos confiou.
Escrito por: Pe. Mauricío