SANTUÁRIO O PÁROCO PASTORAIS E MOVIMENTOS CAPELA IMC. CONCEIÇÃO LAR SÃO LUIZ NOTÍCIAS


Marcos 4,35-41

Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: "Vamos para a outra margem!"

   Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim como estava, na barca. Havia ainda outras barcas com ele.

   Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca,
de modo que a barca já começava a se encher.

   Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: "Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?"

   Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: "Silêncio! Cala-te!" O ventou cessou e houve uma grande calmaria.

   Então Jesus perguntou aos discípulos: "Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?"

   Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: "Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?"

Palavra da Salvação.


Homilia Na Missa do 12° Domingo do Tempo Comum

   Queridos irmãos e irmãs presentes neste santuário, em um mês tão especial dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Quero também saudar todos que assistem a transmissão desta missa dominical. A liturgia deste domingo, com certeza, dirige a atenção para a compreensão segura do que é a nossa vida enquanto peregrinos deste mundo, e a forma de estarmos em alto mar nos oferece uma referência segura de que, enquanto peregrinos ou enquanto aqueles que fazem uma travessia, o Senhor sempre estará conosco.

   Quero convidá-los, portanto, a compreendermos esta dimensão tão importante da liturgia de hoje, alicerçados em uma porta de entrada da liturgia da palavra. Esta porta, cantávamos no salmo responsorial com o seguinte refrão e abrimos assim esta meditação: "Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque eterna é a sua misericórdia."

   Entrando na liturgia da palavra por este viés, encontraremos de maneira muito nítida, especialmente no Salmo 106 ou parte dele, hoje cantada, algumas janelas imprescindíveis de compreensão do todo que foi proclamado.

   Por isto, vamos abrir uma janela com a primeira estrofe, que diz o seguinte: "Os que sulcam o alto mar com seus navios para ir comerciar nas grandes águas, testemunharam os prodígios do Senhor e as suas maravilhas no alto mar." Acredito que o trecho que acabou de ser lido e cantado do salmo responsorial é compreendido de maneira muito coerente ao nos encontrarmos hoje em alto mar e testemunharmos as maravilhas do Senhor.

   O contexto todo nos leva para o evangelho, onde Jesus convida os discípulos para uma travessia: "Vamos para outra margem." E tudo isto acontece logo depois daquele episódio do domingo passado, em que víamos Jesus falando em parábolas das dimensões do reino. Ir para outra margem é convidar os discípulos também a este tempo de travessia.

   Muitas e muitas vezes a Igreja identificou sua missão enquanto uma barca em alto mar. Mas podemos também compreender a nossa vida que busca neste mundo um sentido e a travessia segura com a presença do Senhor. É preciso compreender como Igreja e com o dom da vida o testemunho dado por aqueles que realmente têm fé, que estão a atravessar e a buscar águas profundas, e que, com certeza, pelo seu testemunho experimentam as maravilhas do Senhor.

   Não fechamos esta janela, mas abrimos outra na segunda estrofe, que diz o seguinte: "Ele ordenou e levantou-se o furacão, arremessando grandes ondas para o alto; aos céus subiam e desciam aos abismos, seus corações desfaleciam de pavor." Tenho certeza de que, ao lermos esta parte do salmo, logo pensamos na forte ventania e nas ondas que começaram a lançar na barca em travessia.

   O evangelho de Marcos narra o momento em que o pavor tomou conta do coração dos discípulos mesmo sabendo que o Senhor estava com eles. O texto diz que Jesus estava na parte de trás. Quem sabe a nos ajudar, em uma interpretação segura de que Ele sempre caminha conosco mas nos dá a liberdade de irmos para a frente e chegarmos ao destino.

   Os discípulos acordam o Senhor dizendo: "Mestre, estamos perecendo. Estamos em alto mar e Tu não te importas?" Ondas fortes, ventania muito forte vêm sobre nós, nossos corações desfalecem de pavor. Impressionante como o salmo se faz presente nesta leitura do santo evangelho, principalmente pelo medo experimentado enquanto estavam nesta travessia.

   Mas não só o evangelho nos fala hoje de tempestades enfrentadas, a primeira leitura também traz este teor. É uma leitura do livro de Jó, bem conhecido no Antigo Testamento, um livro sapiencial. Jó tem uma história narrada no seu livro de muitos sofrimentos enfrentados. É a expressão muitas vezes do coração humano que enfrenta sofrimentos e aflições, do coração que também teme muitas vezes não confiar completamente em Deus.

   Jó tinha tudo: tinha bens para uma vida tranquila, e lhes foi tirado; tinha uma família, mas perdeu também esposa e filhos; tinha saúde física e perdeu. E em meio à tempestade, o Senhor responde a Jó: “Mas onde está a tua confiança? Quem fechou o mar com portas, quando ele jorrou como ímpeto do seio materno? E ainda, quando lhes dava nuvens por vestes e névoas espessas por faixas? Até aqui chegarás e não além; aqui cessa a arrogância de tuas ondas." Ou seja, confia no Senhor, não é só pela tua força, mas é preciso confiar que em meio às tempestades, em meio ao medo, o Senhor sempre estará com Jó e com aqueles que têm fé.

   Abramos uma outra janela, o salmo que continua: "Mas gritaram ao Senhor na aflição e Ele os libertou daquela angústia, transformou a tempestade em bonança e as ondas do oceano se calaram."

   Na vida de Jó, como também no evangelho, o grito de socorro aconteceu: "Mestre, estamos perecendo e Tu não te importas?" Jesus se levanta da barca e ordena ao vento e ao mar: "Silêncio, cala-te!" É o poder de Jesus, soberano sobre aquela condição que ainda os discípulos estavam a pensar que o mal imperava.

   Havia este pensamento de que o mal estava escondido embaixo das águas, e, portanto, agora Jesus tem poder sobre o mar. Propriamente, é um lago, mas na Bíblia conhecemos como o mar da Galileia, tantas vezes visitado com experiências profundas de Jesus e seus discípulos.

   Jesus pergunta aos discípulos: "Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?" Esta pergunta não é só para os discípulos, mas também para nós. Os discípulos do tempo de Jesus experimentaram o sentimento de medo e de falta de fé. Também estamos propensos ao medo, se temos tempestades a enfrentar na vida, aflições, é claro que o medo vem a nós. Mas como experimentaremos a presença do Senhor pela força da nossa vida de fé? Neste momento em que a calmaria começa a imperar naquela barca, a tempestade se transforma em bonança. Eu tenho certeza que os discípulos compreenderam que o Senhor veio em socorro de suas aflições.

   A terceira promessa do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria é justamente esta: "Para aqueles que têm devoção ao Coração de Jesus, eu os consolarei em todas as suas aflições." E é uma promessa que se cumpre em corações que têm fé, que alimentam a sua vida de fé.

   Abramos a última janela, e, quem sabe, a mais esplêndida de todas elas, quando ouvíamos hoje na estrofe do salmo: "Alegraram-se ao ver o mar tranquilo, e ao porto desejado os conduziu. Agradeçam ao Senhor por seu amor e por suas maravilhas entre os homens."

   Enfim, o salmista vem a nos dizer que do medo e das inseguranças pode brotar a alegria. Por isto, alegrem-se por ver um mar tranquilo, que acontece justamente pela força da fé e na confiança que temos no Senhor. Por mais que o evangelho termine dizendo que os discípulos ainda não haviam compreendido tudo: "Mas quem é este que até o vento e o mar obedecem?"

   Consequentemente, a partir dos ensinamentos de Cristo, eles compreendem quem é o Senhor. Também deveríamos compreender quem é Jesus, lendo constantemente o evangelho de Marcos e encontrando esta resposta, e principalmente descobrindo que Jesus nos transforma em criaturas novas, transforma o medo em alegria, transforma as tribulações em momentos de bonança.

   É por isto que nos alegramos. Alegrai-vos porque durante a vida somos conduzidos a um mar tranquilo. É interessante a ideia do salmista: "E ao porto desejado nos conduziu." Qual é este porto seguro o qual tanto almejamos? É claro que é a eternidade, é claro que é o céu. E na travessia da vida, em meio às tantas aflições e tempestades, o Senhor continua conosco, nos conduzindo. Por isto, meus irmãos, agradeçam ao Senhor por seu amor e por suas maravilhas entre os homens.

   É a forma concreta de compreendermos toda a liturgia da palavra e termos este horizonte de uma porta que se abre para cantarmos o amor e a misericórdia de Deus. E de janelas abertas na compreensão do que o Senhor nos indica como um caminho seguro nesta liturgia dominical. Tenhamos a certeza: o Senhor está conosco, e se temos aflições e sofrimentos, Ele nos ajudará para que um dia, experimentando a bonança neste mundo, também sigamos conduzidos por Ele a um mar tranquilo e a um porto seguro.

 

Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 10:30h do dia 09/06/2024. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original

Escrito por: Pe. Mauricio