Marcos 1,29-39
Naquele tempo,
Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André.
A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus.
E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu;
e ela começou a servi-los.
À tarde, depois do pôr do sol, levaram a Jesus todos os doentese os possuídos pelo demônio.
A cidade inteira se reuniu em frente da casa.
Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios.
E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era.
De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto.
Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus.
Quando o encontraram, disseram: "Todos estão te procurando".
Jesus respondeu: "Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim".
E andava por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios.
Palavra da Salvação.
Homilia Na Missa do 5° Domingo do Tempo Comum
Caríssimos irmãos e irmãs presentes neste Santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, e quero saudar também os que acompanham a transmissão da missa dominical. Acredito que todos perceberam que, no início desta celebração, fizemos uma alusão ao dia 02 de fevereiro, a Festa da Apresentação do Senhor. Tendo em vista que no domingo temos um número maior de fiéis, torna-se importante lembrar o momento unido ao mistério do Natal de Cristo, em que Ele foi apresentado depois de 40 dias.
Tradicionalmente, a Igreja também faz a bênção das velas que portamos em nossas mãos no início da celebração e levaremos para nossas residências. As velas servirão como sinais de Deus, principalmente nos momentos de oração; quem sabe, para os momentos de angústia e sofrimento, para acalmar as tempestades da vida ou as que muitas vezes se apresentam até nós. Quando tomarmos uma vela, tomamos também a condição da fé que brilha em nosso coração e intimamente nos liga ao Cristo, luz do mundo.
Ao escutarmos hoje a liturgia da palavra do 5º domingo do tempo comum, é possível perceber a grande luz do Cristo que cura, a sua ação salvífica, a missão que o Cristo inaugurou hoje, por meio da cura da sogra de Simão Pedro. Também é a evidência de um Deus que vem habitar entre nós e quer nos curar das enfermidades. Deus habita em todo coração humano e diante de uma humanidade tão sofrida, temerosa com os sofrimentos que, muitas vezes, precisam de um acalento de Deus. É por isso que Jesus, logo no início, inaugura o seu ministério realizando a cura da sogra de Simão.
É importante também a percepção do próprio Jesus, que anuncia a boa notícia, o evangelho, dentro da sinagoga, local onde os judeus se encontravam, lugar público de uma profissão de fé no Deus único e verdadeiro. Mas, em seguida o próprio Jesus vai para a casa de Simão e André.
A decisão de Jesus acontece no momento em que pensamos nas vezes em que professamos a fé em um espaço público, mas nas tantas vezes que o Senhor habita na nossa casa. Assim como foi na casa de Simão e André, Jesus vai ao encontro de cada ser humano, especialmente na morada do coração, e também na morada da nossa casa. É desta forma que uma vela acesa e que se mantém firme dentro de um lar certamente o torna abençoado. Tomemos esta decisão de deixar que Cristo habite em nosso coração e em nossa casa.
Quando Jesus chegou na casa de Simão e contaram que a sogra de Simão estava com febre, Jesus se aproximou, segurou a mão dela e a ajudou a se levantar. Os gestos de Jesus acompanham os vários momentos em que Ele mesmo realizou outros sinais de cura. Aproximar-se de alguém, tocar e ajudar a levantar faz parte de todo o ministério de Cristo.
Assim, esta mulher que recebeu a cura começou a servi-los. Como consequência das curas realizadas no mundo, e são inúmeras, o serviço é a etapa posterior de alguém que reconhece que Deus agora habita e devolveu vida, vida em plenitude.
Muitas e muitas vezes, nos encontramos em situações de sofrimentos e desolações; o nosso coração sofre como muitos dos nossos antepassados já enfrentaram inúmeras provações. Se alguém ainda não enfrentou nenhuma situação de sofrimento físico ou espiritual, é preciso se preparar, pois em dado momento a desolação pode estar em nosso coração. É desta forma que a febre desta mulher é a expressão das tantas situações que vivenciamos do sofrimento humano que, infelizmente, estamos enfrentando por causa do pecado.
Jó, em seu tempo, enfrentou também a desolação, e no livro de Jó, a narrativa de hoje da primeira leitura é um momento de luta, uma luta interior deste homem que precisa reconhecer e voltar o coração a Deus, que é fonte de esperança. Jó tinha tudo e perdeu, mas, ao mesmo tempo, nunca perdeu a esperança de um Deus que queria habitar no seu coração. Tomou consciência de que a vida é rápida e passageira, e é preciso voltar para uma realidade muito maior. Jó é a expressão do ser humano que precisa se reconhecer em suas fraquezas e sofrimentos e confiar na grande misericórdia de Deus.
Ao mesmo tempo, em que tomamos o exemplo de Jó; começamos a pensar nas inúmeras pessoas beneficiadas pelo ministério de Jesus, e foram muitas. O próprio texto de hoje diz que naquele dia, depois do pôr do sol, muitos foram levados até Jesus, muitos até que estavam possuídos pelo demônio. Estar possuído pelo demônio era ser portador de uma doença, e Jesus cura as diversas doenças.
Chega a madrugada daquele dia, Jesus vai a um lugar deserto, e Simão e seus discípulos foram procurar Jesus, pois não poderiam deixar de procurar alguém que realiza sinais de vida. Dizem: “Todos estão procurando". Disseram isso a Jesus, e Ele mostra para os discípulos que a missão não está só numa parte da Galileia, mas é preciso ir para outros arredores, anunciar e realizar curas a tantas pessoas. É assim que Jesus anda por toda Galileia, pregando em suas sinagogas, expulsando demônios, e continua no mundo inteiro pelos discípulos que também receberam esta missão.
Jesus quer continuar conosco. "Ai de mim se eu não pregar o evangelho", diz São Paulo no primeiro texto da leitura de hoje. É preciso que o evangelho se torne vivo na expressão de tantas pessoas que precisam do meu e do testemunho de cada cristão.
É neste sentido, meus irmãos e irmãs, que as curas realizadas por Jesus nos vários ambientes necessitam, tantas vezes, da mediação humana. Como seria bom se pudéssemos, como cristãos comprometidos, jamais deixar de voltar o olhar para alguém que sofre.
Neste mês de fevereiro, especialmente pelo pedido do Papa Francisco ao Apostolado da Oração, a Rede Mundial de oração do Papa, rezamos no início desta Santa Missa pelos doentes em fase terminal, alguns inclusive próximos de nós, que precisam de uma visita, de um acalento, de uma aproximação, como Jesus fez. Quem sabe até de um aperto de mão, mesmo que não consigam responder da mesma forma como o fazemos, necessitamos devolver ao ser humano as tantas formas de carinho e proteção que recebemos. Alguém que está em uma fase de sofrimento, em uma fase terminal da vida, necessita muito do acalanto cristão. Não deixemos de praticar a caridade para que assim possamos caminhar sempre com o Senhor.
Que bela é a expressão hoje do Salmo 146 quando ouvíamos na segunda estrofe: Deus que conta com o ser humano, mas Ele mesmo que realiza, Ele que conforta os corações despedaçados, Ele que enfaixa suas feridas e as cura, Ele que sabe o nome de cada um daqueles que estão em uma enfermidade. Mas também conta com seres humanos capazes de ajudar nesta tarefa e no cuidado para com o outro. É o que pedimos no final desta reflexão e usaremos uma oração para pedir a Deus que Ele nos dê um coração capaz de entender os sofrimentos e os momentos em que cada ser humano passa.
O Papa Bento XVI, quando refletiu em certa ocasião sobre o texto de hoje do Evangelho de Marcos, tomou a decisão de comparar que Jesus, vindo do Pai, é Aquele que vai ao encontro da humanidade, é Aquele que vai ao encontro da terra, é Aquele que encontra uma humanidade doente. É Jesus que, vindo do Pai, corre ao encontro de uma humanidade doente e a encontra com febre, e continua realizando muitos sinais. Dizia o Papa Bento XVI: o próprio Jesus continua a visitar a humanidade com febre, com a febre das ideologias, com a febre das idolatrias, com a febre do esquecimento de Deus.
Por isso, meus irmãos e irmãs, peçamos ao Senhor, inspirados nesta reflexão do Papa Bento XVI: Senhor, dai-nos hoje a sua mão, levanta-nos Senhor e cura-nos, faz com que aconteça em nós o que aconteceu em tantos séculos da história. Pega-nos, Senhor, pela mão com a sua palavra hoje proclamada e assim dissipa a obscuridade das ideologias, das idolatrias, do esquecimento de Deus. Toma, Senhor, as nossas mãos e reverte-nos pelos sacramentos, cura-nos da febre de nossas paixões, cura dos nossos pecados mediante absolvição pelo sacramento da reconciliação. Dai-nos, Senhor, a capacidade de nos reerguermos, para que assim possamos servi-lo melhor nos irmãos e irmãs que sofrem. É o que pedimos inspirados hoje por esta palavra: um coração capaz de ser transformado, tocado pelo Senhor, e pedimos que esse coração seja capaz de servir a Deus. Assim seja. Amém.
Escrito por: Pe. Mauricio