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HOMILIA NO III DOMINGO DO TEMPO PASCAL

HOMILIA NO III DOMINGO DO TEMPO PASCAL

 

            Queridos irmãos e irmãs, de maneira muito providencial, a palavra de Deus que hoje ouvimos quer ser uma resposta a este convite feito por alguns catequistas. Convite que vocês, novos catecúmenos, aceitaram para um tempo de aprofundamento na vida de fé e para conhecer melhor Jesus Cristo. Uma resposta também para as nossas várias inquietações, porque enquanto discípulos do Senhor neste tempo Pascal, buscamos respostas, quem sabe, mais concretas da forma como Deus se manifesta em nós.

É neste sentido que quero inserir a homilia de hoje no evangelho que acabamos de ouvir, a versão mais longa segundo São João. É um belo evangelho, consiste em uma aparição de Jesus dentro de um contexto do trabalho. As primeiras aparições do Senhor aparecem em um contexto bastante comunitário, junto aos discípulos que estavam com medo e depois devolve a alegria a esses discípulos.

Também há o caso relatado por São Lucas, quando o Senhor aparece para aqueles dois discípulos a caminho de Emaús, sinal que o Senhor está presente entre eles. Mas esta terceira aparição do Senhor tem algumas particularidades que chamam a atenção. Por mais que seja preciso dar um passo fundamental no entendimento deste evangelho, podemos compreender que esses discípulos quiseram retomar a sua profissão anterior. O Senhor já tinha aparecido a eles e eis que estavam próximos ao mar de Tiberíades, justamente aquele lugar onde o Senhor os chamou pela primeira vez.

            Eis que estavam ali reunidos Simão Pedro, Tomé, Natanael, filhos de Zebedeu e outros dois discípulos que tinham a profissão em comum, eram pescadores. Então Simão Pedro disse: eu vou pescar! Em uma tentativa de retomar a vida e a profissão, pois de fato, a profissão, o trabalho é muito importante para nossa subsistência, mas quando encontramos o Senhor verdadeiramente nos sinais, quando encontramos Jesus Cristo, não tem como voltar atrás, não dá para voltar atrás. A barca está em alto mar!. Mas, Simão Pedro disse “eu vou pescar”, os outros então respondem: vamos contigo, vamos voltar, vamos pescar, vamos exercer essa profissão, quem sabe aí encontramos um sentido verdadeiro para nossa vida. Já o nosso mestre padeceu a morte, então é hora de voltar no exercício desta profissão.

            Foram, entraram na barca e não pescaram nada durante aquela noite. Já tinha amanhecido, o sol tinha nascido e eis que Jesus estava de pé na margem deste lago, neste mar de Tiberíades, mas os discípulos não sabiam que era Jesus. É comum durante as aparições do ressuscitado, não reconhecer que é Jesus, seu corpo está glorificado. Não que este corpo impedisse que os discípulos pudessem ver o Senhor, mas precisavam de uma experiência profunda de fé.

Jesus se volta para estes que estavam pescando e diz o seguinte: moços, tendes alguma coisa para comer? Eles respondem que não pescaram nada. Então Jesus diz: lançai a rede à direita da barca e achareis. A noite inteira nada de pescaria, mas quem sabe numa grande atenção àquela palavra de alguém que indicava lançar a rede à direita, pescariam algo. E eis que lançaram a rede e não conseguiram puxar porque era muita quantidade de peixes.

            Quando São João, o discípulo que Jesus amava, percebe que estava diante de um sinal extraordinário, diz: é o Senhor! É uma pesca milagrosa que está acontecendo, quando Simão Pedro houve que é o Senhor, diz o texto que até colocou roupa porque estava nu e se atirou no mar. Os outros discípulos então continuaram com o trabalho, trouxeram a barca arrastando a rede com os peixes, não estavam muito longe da terra. Vejam o que acontece, eis o aprofundamento que é fundamental para nós, porque no contexto cotidiano de um trabalho, ou de um querer voltar para o trabalho cotidiano, o Senhor aproveita para manifestar-se plenamente, não só no sinal de uma grande pesca, mas o Senhor prepara uma ceia para os discípulos.

Logo que pisaram na terra viram brasas acesas, com peixe em cima e pão, mas Jesus disse: podem trazer alguns dos peixes que apanharam. Jesus conta também com aquela pesca. Ele já tem um pão preparado, já tem peixe em cima, mas Ele conta com aqueles peixes.

            O Senhor está ofertado um grande banquete e agora neste contexto se inaugura um banquete preparado pelo Senhor. Ele preparou e viveu este banquete sendo o cordeiro imolado por nós, mas Ele quer também que apresentemos toda semana os frutos da terra e do trabalho humano, o pão e o vinho.

Então Simão Pedro subiu no barco e arrastou a rede para terra. Percebam que a partir do momento em que isto acontece, inaugura-se no evangelho um contexto eclesial, de Igreja que começa a nascer, porque Simão Pedro ao subir no barco toma coordenação de tudo aquilo.

Simão Pedro já figura entre os primeiros, se não o primeiro, para que pudesse estar à frente dos outros discípulos, por isto sobe no barco, arrasta a rede, tem a tarefa de coordenar esta Igreja, que tem um sinal muito providente em uma barca. Esta rede estava cheia com 153 grandes peixes, eram espécies de peixes conhecidas na época, de maneira simbólica vieram todas as espécies de peixes, porque o Senhor quer trazer todos para a salvação. A salvação não é para alguns, a salvação em Cristo é para todos, para aqueles que precisam experienciar Cristo, então todos vem e tem esta grande possibilidade de salvação.

            E apesar de tantos peixes a rede não se rompeu, porque a Igreja não se rompe, e Jesus diz: vinde comer! Não é isso que o Senhor faz conosco? Convida em cada eucaristia a participar e a se alimentar do pão que desce do céu. Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era Ele, porque sabiam que era o Senhor. Quantas vezes também não nos atrevemos a perguntar se estamos realmente na presença de Deus, porque sabemos que estamos.  

Jesus então se aproxima, o contexto é todo eucarístico, toma um pão, distribui entre eles, faz a mesma coisa com o peixe e todos comeram. Jesus vai em direção a Simão Pedro porque precisava constitui-lo apóstolo, e precisava constituir como um sinal entre os discípulos. É preciso lembrar que Pedro foi aquele que negou Jesus. Negou três vezes a Jesus, e é por isso que três vezes o Senhor pergunta para Pedro, porque Ele quer resgatar aquela negação de Pedro, Ele quer resgatar no amor.

            Por isto, se algumas vezes na vida negamos o Senhor, somos infiéis, o Senhor nos chama e nos pergunta como perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Então apascenta os meus cordeiros, na segunda vez, as minhas ovelhas, quer dizer: o Senhor quer contar com Simão Pedro, mas também quer contar com os outros discípulos, em uma adesão de fé.

            Embora haja tantas fragilidades humanas, o Senhor conta com cada discípulo, como escolheu Simão Pedro para ser o chefe entre o grupo dos apóstolos. No final pergunta: mas Simão, tu me amas? E ele disse: Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo. É uma profissão de fé, e a partir de então Jesus começa a contar com Simão, e ele tem uma tarefa, de confirmar a Igreja a fé daqueles que futuramente professariam a fé em Jesus.

            Simão Pedro é a imagem visível do papa. Os discípulos que depois confirmam também a fé são as imagens visíveis dos bispos. Como precisamos ter uma adesão de fé aos bispos e ao papa porque é por meio deles que somos confirmados na fé.

Esta fé que vocês pediram hoje, catecúmenos, esta fé que dá a vida eterna precisa de uma confirmação da Igreja, e quem nos confirma? É Pedro, é hoje o papa Francisco, são os bispos em comunhão com o papa.

            Esta confirmação na fé nos dá, além da característica de sermos discípulos do Senhor, de nos configurarmos a Ele, a característica de sermos enviados neste mundo. Jesus diz para Pedro: quando era jovem tu te cingias para onde queria, mas quando for velho, Pedro, estenderá as mãos e outro te cingirá, e te levará para onde não queres ir. Interessante estas palavras de Jesus porque estão diretamente ligadas a nós, estão diretamente ligadas à primeira leitura que ouvimos hoje, porque é preciso obedecer a Deus em primeiro lugar, antes que aos homens. Muitas vezes pensamos que a obediência aos projetos humanos é a melhor forma de concretizar a nossa existência, e não é esse tipo de obediência que realiza em plenitude o que precisamos.

            É obediência a Deus, é estar com os ouvidos abertos para acolher o Senhor. Porque é assim que o Senhor diz para Simão Pedro: segue-me. Mas está dizendo também para mim, para cada um de vocês, vem, segue-me! É preciso seguir o Senhor, é preciso se tornar discípulo do Senhor, porque é assim que o Senhor quer contar na história concreta da vida humana, com discípulos verdadeiros, que embora tenham dúvidas, que muitas vezes não são tão fiéis como deveriam ser, mas o Senhor conta sempre conosco.

            Dando um exemplo muito concreto, quem sabe até para nos ajudar e ajudar tantos jovens que aqui estão: hoje pela manhã participei de uma ordenação presbiteral, de um novo sacerdote. Pedi que rezássemos no início desta celebração pelo Padre Matheus, do Santuário Santa Rita de Cássia na vila Hauer. A história completa deste jovem vocês podem encontrá-la, são 30 minutos, em um depoimento no site, nas redes sociais da arquidiocese, da pastoral vocacional e na minha rede social também. Compartilhei porque é bonito perceber o quanto Deus realiza maravilhas na vida daqueles que, em muitas situações, estão fechados para graça. Ele mesmo se declarou ateu por muito tempo, até a sua adolescência não tinha uma fé tão consistente, foi batizado, mas não é de uma família com grande costume por mais que participassem da missa, participassem dos sacramentos.

            Mas o seu projeto estava em se aprofundar no nível racional e, muitas vezes, a razão tira o lado da Fé. Ele conta no seu depoimento que sendo muito racional, Deus não cabia nesta história, mas assim mesmo foi para catequese, primeira comunhão, fez crisma, quase como uma obrigação, empurrado pelos pais, como muitas vezes acontece no nosso tempo.

Por isso pais, não desistam de enviar seus filhos para catequese, mesmo que seja difícil, mesmo que eles cheguem, como muitos adolescentes chegam para mim e dizem: não acredito em nada. O Matheus mesmo assim foi para o retiro da crisma, ali fez uma experiência de fé, depois começou a participar de um grupo de jovens, a experiência foi se aprofundando. Fez uma experiência com o grupo de jovens lá na sua paróquia, mas já estava na faculdade, cursando direito, quando uma amiga apresentou um retiro, retiro que seria realizado pelo grupo de jovens Leão de Judá aqui do nosso Santuário. Ela perguntou se gostaria de participar, então ele foi nesse retiro, na tentativa de encontrar um sentido para a vida, e quando chegou à confissão foi atendido pelo Padre Rivael. Muitos de vocês conhecem o Padre Rivael que já ajudou neste Santuário. O padre Octávio na época precisou que ele atendesse as confissões, conta que estava muito cansado, mas foi mesmo assim para o Barro Preto em São José dos Pinhais para ajudar. Chegou lá, estavam os jovens em retiro, e um deles, o Matheus veio conversar e falou de suas inquietações e que queria ser padre.

Então foi aí que começou todo seu trabalho vocacional, que já tinha iniciado também com outros padres, mas daí foi quando ele conheceu os sacerdotes diocesanos e pode diferenciar e fazer uma escolha, para servir a Igreja particular de Curitiba. Padre Rivael passou o contato para mim, eu era reitor do seminário propedêutico, lá acolhi o Matheus e seus pais, e pude ajudá-lo durante um período de discernimento. Depois de um longo processo formativo de missão que foi em Marabá, hoje a Igreja confirma a sua vida de fé, quando o arcebispo o ordenou presbítero, padre para a Igreja.

            É assim que o nosso segmento também se dá, que este exemplo sirva para nós, para que saibamos: o Senhor nos quer próximos dele, o Senhor nos quer perseverantes como os discípulos. Se estiver chamando jovens, não se deixe levar por outras situações do mundo, mas que as inquietações do tempo presente leve a cada jovem a uma experiência profunda de encontro com o Cristo, porque tenho certeza que este encontro muda a vida, este encontro muda radicalmente a história do ser humano e a história de cada um de nós.

Escrito por: Pe. Maurício Gomes dos Anjos