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Lc 1,1-4; 4,14-21

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Homilia no III Domingo do Tempo Comum

HOMILIA NO III DOMINGO DO TEMPO COMUM Queridos irmãos e irmãs presentes neste Santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, e os que acompanham, neste momento, a transmissão desta Santa Missa dominical do terceiro domingo do tempo comum. Estamos nos primeiros passos deste tempo em que se retrata a vida pública de Cristo. Iniciamos algumas semanas atrás e no domingo passado abríamos o segundo domingo do tempo comum com o evangelho das Bodas de Caná. Hoje, iniciamos uma leitura quase que contínua do Evangelho segundo São Lucas, o evangelista que ouviremos ao longo deste ano C, merecendo, portanto, toda a nossa atenção. E para iniciar esta breve reflexão, o texto bíblico hoje apresentado se dedica aos quatro primeiros versículos do prólogo ou uma introdução ao texto escrito. Permitam-me referir a essa introdução porque são duas partes bem distintas do Evangelho, mas precisamos ter um apreço justamente pelo modo como o evangelista retrata a vida de Jesus. Começa dizendo, de modo até poético, que muitos já tentaram escrever sobre esses acontecimentos, sobre a vida de Jesus, sobre tudo o que aconteceu. E muitos escreveram baseados em testemunhas oculares, ou seja, aqueles que viram os acontecimentos, mas também, graças àqueles que se tornaram ministros da palavra. Essa expressão é muito cara, inclusive no nosso tempo, porque somos como mensageiros da palavra, como ministros da palavra, e somos convidados a levar essa palavra a outras pessoas. Baseado nas testemunhas oculares e nos ministros da palavra é que São Lucas escreveu o seu evangelho. O Papa Francisco nesse dia estará conferindo o ministério de catequista a alguns que estão presentes no mundo inteiro. Ano passado, ele quis instituir esse novo ministério, porque cada catequista é por si mesmo um ministro da palavra, tem essa tarefa de levar adiante a palavra de Deus. Deste modo, em cada Igreja particular depois desse dia, cada um ou cada bispo terá a responsabilidade de levar adiante esse ministério e conferir a alguns um ministério específico de catequizar. Também o Papa Francisco quer que esse terceiro domingo do tempo comum, seja conhecido como o domingo da palavra. Por mais que a própria Santa Sé tenha concedido ao Brasil a possibilidade de continuar celebrando no último dia de setembro, o dia da Bíblia, não podemos deixar de nos referir a palavra de Deus hoje proclamada. Estamos na introdução em dois versículos, onde afirma São Lucas: assim sendo, depois de um estudo muito cuidadoso de tudo o que foi apresentado também decidi escrever de modo muito ordenado. É o texto de São Lucas escrito para o excelentíssimo Teófilo. Muitos estudos já foram feitos a respeito desse personagem, não se sabe propriamente se era uma pessoa, mas a interpretação bíblica é preciosa: Teófilo quer dizer amigo de Deus; então o texto bíblico foi escrito para todos aqueles que são ou querem se tornar amigos de Deus. Quantos de nós, com certeza, queremos desenvolver intimidade e amizade com Jesus, pois bem, o texto segundo São Lucas foi escrito para nós, e precisamos ler todo este evangelho, justamente para termos intimidade e proximidade com Ele. Deste modo, diz São Lucas, cada um poderá verificar a solidez dos ensinamentos que recebestes. De fato, cada um tem a tarefa de acolher a palavra e depois deixar que esta palavra seja uma transformação de vida. É esse o sentido do acolhimento do Santo evangelho e das palavras escritas como palavras de vida eterna. Até repetimos algumas vezes o Salmo que hoje cantamos, “vossas palavras Senhor são espírito e vida”. Claro, as palavras de Deus são palavras de vida eterna. Esta palavra anunciada por São Lucas é agora identificada no capítulo 4, no momento em que se apresenta Jesus no início da sua vida pública voltando para sua cidade. Já haviam muitos elogios a respeito de Jesus, porque tinha anunciado em outras sinagogas. Mas, veio para Nazaré, no lugar mais difícil, onde a palavra deveria ser proclamada junto à sua terra natal, e tudo acontece no dia de sábado, segundo a tradição judaica os judeus vão sábado à sinagoga para escutar a palavra de Deus. A descrição é muito detalhada, diz o seguinte: Jesus entrou na sinagoga e se levantou nesse dia para fazer a leitura. Coube a Jesus a tarefa de ler o profeta Isaías, deram a ele este livro, quando abre o livro não é uma abertura ao acaso da palavra de Deus do profeta, é o livro do antigo testamento. A descrição do texto diz que ele achou a passagem, dá impressão que procurou essa passagem, mas esta palavra já estava escolhida por Deus. E eis o que ele encontra! Permitam-me ler o que o profeta Isaías já previa nas seguintes palavras: “O espírito do Senhor está sobre mim porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a boa nova aos pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos cativos, e aos cegos, para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano da graça do Senhor”. Eis a descrição do que o profeta previa e agora acontece por meio da proclamação feita por Jesus. Depois de Jesus ter proclamado este texto, fecha o livro e entrega ao ajudante, senta-se e todos que estavam na sinagoga fixam os olhares em Jesus. É claro, para ver o que estava por acontecer. Então Jesus começa a dizer, vejam como a descrição é bem detalhada, é como se Jesus pudesse fazer uma breve homilia como estamos fazendo, e Jesus diz o seguinte: hoje se cumpriu esta passagem da escritura que acabastes de ouvir. Ou seja, o espírito do Senhor está sobre ele, é Jesus o escolhido, é Ele que tem a missão de como o ungido do Senhor, levar uma boa notícia àqueles que precisam, pobres em espírito e até materialmente. Quando pensamos nessa condição, pensando também na simplicidade que precisamos ter para acolher a palavra que precisa ser levado aos cativos, aos cegos e a palavra que vem para proclamar um novo tempo, um ano da graça do Senhor, tudo se cumpre em Jesus e Nele. Por isso está dizendo: hoje essa palavra se cumpre em nós, e cada vez que ouvimos a palavra de Deus é como se fossemos convidados também a acolher essa palavra e ao final tomarmos consciência, hoje esta palavra se cumpre na minha vida e preciso me deixar guiar por esta palavra. O modo como Jesus, na sinagoga, escutava, ou melhor, proclamava a palavra fazia com que esta palavra se tornasse vida. Mas, há outra descrição, que não pode ficar despercebida, do segundo livro de Neemias, livro do antigo testamento que também relata uma liturgia da palavra. É preciso perceber a cada missa que participamos uma liturgia da palavra. Quando entramos no espírito da celebração pela procissão de entrada, e com canto de entrada, eis a palavra de Deus levada como centro e, justamente essa palavra é referência no momento inicial. Essa palavra que é colocada sobre o altar que contém o evangeliário, contém os Evangelhos, depois é trazida até este ambão para que seja proclamada. A palavra que traz a vida do povo de Deus, e a vida colocada sobre o altar e transformada depois na liturgia eucarística, pois no mesmo lugar, onde estava evangeliário depois se estende um corporal para que o pão e o vinho sejam colocados, e se tornem o corpo e o sangue do Senhor. iá Intimidade entre liturgia da palavra e liturgia eucarística e fazemos um pouco de nossa trajetória da liturgia da palavra com o momento penitencial, com hino de louvor, com oração inicial, e com uma atenção a palavra de Deus, e depois do Evangelho, acontece uma meditação. Agora vejam a descrição, primeira leitura do momento em que o povo estava desolado. O exílio da Babilônia tirou o povo de Israel, o povo judeu da sua terra natal, mas agora era o retorno, e eis que eles encontraram em alguns lugares a palavra que foi proclamada. Então era preciso restaurar a fé deste povo, e o que acontece? O sacerdote Esdras toma a lei e apresenta para todo povo, faz a leitura na praça pública, para aqueles que eram capazes de compreender. Não foi uma leitura rápida como fizemos hoje, foi desde o amanhecer até o meio-dia, e o povo não se cansava de escutar a palavra de Deus. E todos procuravam compreender essa palavra ou aqueles que eram capazes de compreender, nem todos são capazes. Mas todo o povo escutava com atenção a leitura do livro da Lei. Como escutamos a palavra. Então Esdras, o escriba, está de pé em sinal de prontidão, no estrado de madeira, parecido com este ambão, feito para esta finalidade da proclamação da palavra. Estando no lugar alto abre o livro a vista de todos, todos podiam ver, todo o povo fica de pé, no evangelho também ficamos em pé, e ao final levantam as mãos e respondem com um Amém, como respondemos com um amém, também respondemos com inclinações, prostrações, quando reconhecemos que Deus está presente na palavra de Deus. Vejam que importância tem para os leitores, ler de modo claro a palavra de Deus, para que chegue ao ouvidos de todos, no coração de todos. Desta forma, explicando o sentido para que todos pudessem compreender, eis que se cumpre neste momento uma verdadeira liturgia da palavra. O governador Neemias diante de Esdras que estava proclamando essa palavra e instruía o povo diz: realmente esse dia é especial, um dia consagrado ao Senhor, portanto, não fiquem tristes, nem choreis, porque o povo começou a chorar, chorar de alegria porque estavam diante da palavra. Quanto choro de alegria vi neste santuário, de pessoas quando voltaram mesmo com a pandemia, e puderam escutar a palavra e comungar o Jesus Eucarístico, muito choro de alegria porque, de fato, a palavra se fez carne e está habitando no coração humano. Então continua: é tempo de júbilo, é tempo de festa, não estamos mais exilados. Infelizmente ainda estamos em tempos de pandemia, precisamos nos cuidar, mas não podemos deixar de agradecer, porque a palavra está entre nós. Afirma-se: ide para vossas casas, comei carnes gordas, e reparti com aqueles que nada prepararam, porque esse dia é santo para o Senhor, não fiquem tristes, porque a alegria do Senhor será a vossa força. Lindíssima palavra, porque se cumpre em nós neste domingo, pois daqui a pouco estaremos almoçando, quem sabe até teremos carnes gordas, temos que ter cuidado também, mas quem sabe até teremos bebidas doces para agradecer, porque além de ser um dia consagrado ao Senhor também é um dia de estar em família. Mas, continua o texto, não nos esqueçamos de repartir com aqueles que nada têm, que nada prepararam, por que de fato é um dia do Senhor, e se aprendermos a repartir o que temos com os outros se cumpre o mandato de Jesus. Porque, se ele veio para evangelizar e dar uma boa notícia aos pobres, quer que também sejamos protagonistas do nosso tempo, e anunciemos este evangelho aos pobres que precisam, e o melhor anúncio do Evangelho está no repartir o pão com aqueles que não tem. Isto é uma fonte de alegria que não passa. Ás vezes buscamos uma alegria passageira, uma euforia, mas como é bom termos uma alegria no coração quando podemos partilhar com aqueles que nada têm. Deste modo, a palavra se cumpre em nós, deste modo somos Igreja, uma Igreja que se preocupa com todas as partes do corpo, do seu corpo, e se um membro precisa de ajuda, vamos ajudar. Se o membro precisa de auxílio, vamos dar este auxílio, porque assim se cumpre em nós tudo que o espírito vivifica. Permitamos que esta palavra habite nosso coração, para que assim se cumpra, como de fato se cumpriu em Jesus, e quer se cumprir em nós as passagens da escritura que acabamos de ouvir.

Escrito por: Pe. Maurício Gomes dos Anjos