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Mc 6, 7-13

7Então chamou os Doze e começou a enviá-los, dois a dois; e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos.

8Ordenou-lhes que não levassem coisa alguma para o caminho, senão somente um bordão; nem pão, nem mochila, nem dinheiro no cinto;

9como calçado, unicamente sandálias, e que se não revestissem de duas túnicas.

10E disse-lhes: Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela, até vos retirardes dali.

11Se em algum lugar não vos receberem nem vos escutarem, saí dali e sacudi o pó dos vossos pés em testemunho contra ele.

12Eles partiram e pregaram a penitência.

13Expeliam numerosos demônios, ungiam com óleo a muitos enfermos e os curavam.


Homilia no XV Domingo do Tempo Comum

           

HOMILIA NO XV DOMINGO DO TEMPO COMUM

            Meus caros irmãos e irmãs aqui presentes e também todos que neste momento nos acompanham por meio desta transmissão. Estamos às vésperas do domingo, dia do Senhor, onde a Igreja celebra o 15º domingo do tempo comum.

Na Igreja primitiva, este momento que estamos celebrando era vivido, de uma maneira muito profunda pelos primeiros cristãos. Segundo os ensinamentos recebidos a Igreja preparava-se para o domingo no estado de vigilância, uma vigília fazia parte daquele momento que os cristãos esperavam fervorosamente, o domingo.

Quando resplandecia a luz do dia daquele domingo, estavam perseverando em uma grande vigília. Inicialmente, não só a vigília da páscoa era vivida toda a noite ou no tempo noturno, em uma oração prolongada, mas todo o domingo era precedido por um estado de vigilância, pelos cristãos que se preparavam orando e procurando estar na presença do Senhor.

            De algum modo, hoje fazemos memória desses primeiros acontecimentos da era cristã, porque também estamos às vésperas do domingo. Não estamos em uma grande vigília, mas a celebração eucarística nos coloca diante daquela perseverança dos primeiros cristãos, em torno da mesa da palavra e da eucaristia que se celebra diante do altar.

Estamos, portanto, nesta primeira parte da santa missa com a liturgia da palavra, e este é o momento em que meditamos os trechos escolhidos pela Igreja. Começamos com o texto principal: o santo evangelho, neste ano que seguimos na perspectiva de São Marcos. Chega um momento em que o evangelista narra o envio dos 12, o Senhor já havia chamado 12, para que assim pudessem compor o grupo dos primeiros discípulos, estes, agora, são enviados e recebem a denominação de apóstolos.

Discípulo é aquele que segue o mestre, apóstolo é aquele que está enviado pelo Senhor, e no mundo vive o testemunho daquele que se configurou ou daquele que procura se configurar, no caso dos discípulos de Cristo, no testemunho do Senhor.

            Vale a pena recordarmos o trecho do santo evangelho, quando logo no início narra que Jesus chama os 12 e começa a enviá-los dois a dois. Eles não estão sozinhos na missão e no mundo, e de nenhum modo levarão adiante uma missão que lhe é própria.

Quando o Senhor coloca dois a dois, existem já algumas garantias da missão e da Igreja nascente, primeira delas o anúncio do Cristo, não anúncio próprio, segunda, há uma garantia de uma comunidade que começa a ser formada. Minimamente, uma comunidade é formada por duas pessoas. Claro que hoje estamos com muito mais que duas pessoas e formamos uma comunidade em torno da palavra e da santa eucaristia. Há, portanto, essa garantia de uma comunidade ou da Igreja que está em missão no mundo.

            O trecho ainda do evangelho está situado antes da ressurreição de Cristo, porque depois que o Cristo padece a morte e ressuscita, também envia os discípulos pelo mundo. Envia cada um com a missão de propagar esta boa notícia por toda parte, e  antes de padecer a morte e intensamente viver a ressurreição, o próprio Senhor já enviou esses doze em missão.

É interessante pensarmos na vida e na missão da Igreja, na nossa missão, enquanto aqueles que também se encontram no mundo, não para anunciar propriamente algo novo, mas para anunciar Jesus Cristo, para anunciar o evangelho, essa boa notícia, que temos segundo os evangelistas e segundo o que o Senhor nos deixou.

            Há ainda algumas recomendações, diante desta missão abraçada pelos apóstolos enviados ao mundo. A primeira delas se refere à condição daqueles que não podem estar apegados às coisas do mundo, pelo contrário, a confiança de que o Senhor providenciará o necessário. E quem faz a experiência do necessário sabe que Deus providencia muito mais do que precisamos.

Ainda dá a condição de que estes possam andar pelo mundo para anunciar essa boa notícia, batendo ou estando de casa em casa. Mas, se em alguma casa, em algum ambiente não há uma boa recepção, o Senhor mesmo diz: vai adiante, não insista, assim, se não quiserem te escutar, quando sair sacuda a poeira dos pés, como testemunho contra eles.

Claro que não está falando de sermos indiferentes às situações, mas está dizendo no respeito que precisamos ter, e do diálogo que devemos estabelecer com aqueles que, muitas vezes, não querem encontrar o caminho de salvação.  Não um diálogo no sentido de queremos viver o que eles querem viver, mas muitas vezes também na liberdade humana, respeitar o tempo e o caminho que cada um tem a percorrer neste mundo.

            E, no final do evangelho, diz o seguinte: então os 12 partiram. É belíssima essa imagem, porque esses dois partem para o mundo em missão, dois a dois, e levam consigo, na verdade, três grandes características da missão. A primeira delas, diz o Senhor, que eles deveriam pregar um evangelho de conversão, mudança de vida. Depois, teriam poder sobre o espírito maligno, sobre o mal, expulsar o demônio, e terceiro, curar os doentes, ungindo com óleo.

Essas três características estão impregnadas na missão da Igreja, os discípulos agora apóstolos enviados ao mundo, levam adiante uma missão e um evangelho que leva à mudança de vida, à conversão, a expulsar o maligno, e estar junto com aqueles que mais precisam.

            Se tomarmos, agora, este evangelho vivido pelo Senhor no envio destes 12 pelo mundo, compreendemos o quanto precisamos abraçar a mesma missão, como discípulos do Senhor. E, em algum momento, também abraçarmos aquela característica da Igreja de estar no mundo e de cumprir plenamente a sua missão, a vida que chamamos de apostolado, ou do que podemos fazer no mundo. Se estamos nesta condição é porque, em algum momento, podemos ser enviados.

Daqui a pouco iremos entregar dois símbolos próprios para o ministério extraordinário da sagrada comunhão, para alguns dos nossos irmãos e irmãs que aceitaram o convite para servir à Igreja nesse ministério, não só internamente, mas vocês logo perceberão, também externamente, porque receberão uma bolsa viática, onde carregarão o Santíssimo junto com uma teca.

E pra que serve este instrumento de trabalho? Para que vocês possam sair pelo mundo, visitar os doentes, e levar o Senhor. Essa é uma grande missão abraçada pelos ministros da sagrada comunhão.

            Às vezes ficamos mais acostumados a vê-los atuando na própria liturgia, mas uma grande motivação à missão se encontra quando cada um tem um cuidado para com os irmãos enfermos, ao levar a santa comunhão.

Agora, graças a Deus, estamos vivendo um tempo diferente, esperamos que cada vez mais, o declínio da pandemia esteja junto conosco. Porque, como foi triste nem poder visitar os doentes para levar a sagrada comunhão, nem nos hospitais e nem mesmo nas casas. Alguns ministros da sagrada comunhão já estão fazendo isso com todos os cuidados e cautelas, e respeitando cada família, pois esta é a missão. Cada vez que nos colocamos neste caminho, tomamos o Senhor para visitar o irmão enfermo ou doente, sabemos o quanto somos agraciados por Deus.

Muitas vezes levamos o consolo, o conforto, a ajuda que alguém está precisando, mas quando viramos as costas para voltar para casa, logo percebemos que nós mesmos precisávamos daquele consolo. Fomos beneficiados por que quando estamos no mundo temos o necessário e recebemos muito mais.

Vocês que serão novos ministros da sagrada comunhão, mas também todos que abraçaram o santo batismo, são protagonistas de um profetismo, de estar no mundo sem ser do mundo, e anunciar o evangelho da verdade.

Amós, o profeta, no seu tempo, 700 anos antes de Cristo, já procurava viver esta condição de profetismo, foi colocado junto a uma região em que não houve aceitação porque se acreditava que ele não tinha uma descendência de profetas. Mas, o Senhor falou a Amós e colocou junto à Betel, e junto a esta cidade ele profetizava sem medo, profetizando inclusive diante do santuário, e profetizava diante de um rei que não estava assim tão preocupado com as condições daqueles que governava. Assim, o sacerdote Amasias vai até Amós e diz o seguinte: vidente, sai daqui, procura refúgio, vai para outra região.

De repente, eis que Amós se volta para Amasias dizendo: eu não sou profeta, nem sou filho de profeta, eu sou um pastor de gado, cultivo sicômoros, o Senhor me chamou para estar junto àqueles que ele me enviou, não para estar junto daqueles que iriam ficar só agraciados com o profetismo, mas principalmente, para profetizar em toda Israel, seja no norte ou no sul, em todas as regiões, não só em Jerusalém, mas também nessa região, na região de Betel, para que ali também haja um tempo de conversão.

Amós se torna para nós um referencial, para que abracemos o profetismo. Estamos um tempo de profetismo não muito bem vivenciado, até mesmo por nós, cristãos. É muito mais fácil vivermos um tempo de querer condições e queremos aliviar a palavra de Deus e aliviar o evangelho, como se o Senhor viesse para agradar a todos.

            Desde o momento em que não somos tocados pela palavra, também não há uma mudança de vida e uma conversão. O profetismo não está sendo bem exercido no nosso meio, por que de alguma forma, todos nós somos profetas, todos nós pelo batismo, assumimos a missão, de ser profeta, sacerdote, rei e pastor.

O profetismo precisa ser bem exercido, claro, com toda a autenticidade. Mas não estamos no mundo para agradar o mundo, pelo contrário, estamos no mundo para transformá-lo. E estou usando esta forma conjugal, estamos no mundo, pois todos somos de alguma forma, apóstolos enviados para este mundo, e precisamos testemunhar a Cristo, senão o evangelho ficará para trás, e muitas outras gerações que virão não terão oportunidade de vivenciar o que vivenciamos hoje, essa experiência profunda de fé, de estarmos diante da palavra, estarmos diante do Cristo Eucarístico e podermos ter o consolo necessário, para esse tempo tão difícil.

            Peçamos a Maria Santíssima ao final desta meditação, que ela nos ajude, que esteja presente conosco, seja nossa companheira neste mundo que tanto necessita da nossa missão e do nosso profetismo.

 

Escrito por: Pe. Maurício