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Mt 5, 13-16

13Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.

14Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha

15nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa.

16Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.


HOMILIA NO 5° DOMINGO DO TEMPO COMUM

Queridos irmãos e irmãs, estamos nas vésperas do domingo, dia do Senhor, e para nós, cristãos católicos, oportunidade ímpar de aprofundar os trechos da sagrada escritura que são lidos no mundo inteiro, em todas as Igrejas, como forma de expressão de uma grande comunhão com este domingo do tempo comum.

            Neste ano, temos a oportunidade do aprofundamento do evangelista chamado Mateus. Dos evangelhos sinóticos, os evangelhos parecidos, foi o último a ser escrito.  Mateus precisou escrever para seus irmãos judeus, comprovando que Jesus é o Messias, por isso toda a temática desenvolvida por este evangelista está em consonância com o antigo testamento. E de modo muito particular constrói o seu evangelho com o capítulo 5°, que contém uma das páginas mais bonitas da bíblia, as bem-aventuranças.

            Na semana passada, deveríamos ter escutado esse evangelho, ou a primeira parte do capítulo 5°, mas como estávamos na festa da Apresentação do Senhor, essa tomou lugar enquanto celebração litúrgica, e tivemos outros textos bíblicos.  Por isso, hoje, continuamos a escutar o mesmo evangelho, estamos no capítulo 5°, e o que ouvimos está em consonância com as bem-aventuranças.

            Quando chega-se na 9° bem-aventurança, há uma expressão utilizada por Cristo, uma expressão muito importante que depois fará parte do 2° momento, quando Jesus fala a respeito da perseguição dos discípulos Ele diz o seguinte: “bem-aventurado sois vós”. Inclusive há uma mudança, nas outras bem-aventuranças existe sempre uma consonância na compreensão, em um sentido bastante pessoal, mas a partir de então aparece a expressão: vós, para dar uma conotação muito mais do ponto de vista comunitário, mas também não perdendo a pessoalidade. É por isso que muitas vezes vai aparecer de maneira expressiva no capítulo 5° e no evangelho que ouvimos hoje, a mesma expressão.

            Diz então Jesus em consonância com a 9° bem-aventurança: Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo. Assim como Ele havia dito: bem-aventurados sois vós porque serão perseguidos por causa da justiça, e muitas vezes enfrentarão as condições do mal, agora Ele está dizendo a seus discípulos e a palavra se atualiza em nós enquanto discípulos atuais: vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo. Então essas duas expressões, essas duas palavras, estão construindo toda a temática deste final de semana.

            Falemos um pouco sobre a importância dessa expressão utilizada por Jesus.  O sal, sabemos da sua importância, pois uma comida sem sal ou com muito sal não agrada ninguém. O sal, na verdade, é melhor quando está na alimentação e não aparece, quando alguém reclama que está faltando sal é porque a comida não está assim tão boa, se tiver muito sal, pior ainda, porque não tem nem como consertar. Agora, quando o sal não aparece, ele dá gosto à alimentação, desta forma cumpre o que é seu sentido.

            O sal era muito utilizado pelos pescadores no tempo de Jesus, para conservar os peixes, muito e muito sal, até tempos atrás, antes da energia elétrica, era a maneira que se conservavam as carnes. O sal tem dupla função: dar gosto, mas ao mesmo tempo conservar o alimento, e é esse o sentido utilizado por Jesus. Em um exemplo tão atual para seus discípulos, está dizendo: vocês, enquanto discípulos meus, são sal da terra, ou seja, vocês precisam dar gosto às coisas deste mundo, devolver gosto pela vida a tantas pessoas, mas ao mesmo tempo vão precisar conservar esse precioso tesouro que estou apresentando a vocês.

            É linda essa expressão, porque encontramos um sentido muito verdadeiro do que é ser cristão.  Ser cristão não é só participar da missa e celebrar bem, porque é um grande sentido e nos faz bem pertencer a uma comunidade, mas ser cristão é dar testemunho no mundo nas condições do tempo presente de que Jesus é realmente o sentido da vida, isso que é ser cristão! É ser presença no mundo sem se deixar contaminar pelo mundo, por isso um cristão não deve ter medo de estar no mundo, porque carrega consigo gosto pelas coisas de Deus e carrega consigo essa semente de fé, não pode conservar para si, mas precisa falar aos outros, ser presença no mundo que tanto precisa.

            Mas para nos ajudar a compreender ainda mais esta vocação eis a segunda expressão: vós sois a luz do mundo. Também poderemos pensar no que o profeta Isaías falou-nos da luz. A primeira leitura de hoje é uma leitura que valeria a pena lermos, outra vez, uma terceira, e muitas vezes, porque encontramos o sentido do que é ser luz no mundo.

            Alguns perguntam: mas padre, como serei luz no mundo, ou como nos transformamos em luz do mundo, com tantas situações deploráveis em que vivemos? Pois bem, o profeta Isaías respondeu no seu tempo e responde agora: “reparte o teu pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos, quando encontrardes um nu, cobre-o e não desprezes a tua carne, então, se fizerdes isto, brilhará tua luz como a aurora, e tua saúde há de recuperar-se mais depressa”.

            Que segredo que o profeta Isaias nos dá! Para sermos luz no mundo não abdicamos das obras de caridade, não abdicamos do cuidado para com aqueles que precisam, dos pobres e famintos. Na verdade, não deixamos de lado as obras de misericórdia, sabem que uma das obras mais importantes é cuidar e dar uma boa assistência, inclusive aos mortos.

            Permitam-me até falar um pouco dessa obra de misericórdia porque nos ajuda a brilhar como luz. Muitas vezes nos tornamos insensíveis à dor alheia, insensíveis à dor da separação e da morte, mas como é bom sentir comunhão com alguém que perde o ente querido e que se encontra naquele momento consolado pela fé, cercado de amigos.

            Foi bela a expressão hoje, permita-me dizer, Lúcia Maria, nós enquanto comunidade, uma boa parte, em comunhão, pois nossa ministra da eucaristia Lúcia Maria hoje sepultou a mãe. É uma obra de caridade sepultar os mortos e rezar pelos entes queridos, é obra de misericórdia também, e como é bom sentir essa expressão de comunhão e nos tornarmos luz do mundo. Pena que às vezes nos tornamos insensíveis, não queremos nem fazer guarda, alguns preferem sepultar rapidamente para aliviar a dor, mas a dor também precisa ser experimentada. Alguns nem querem ficar com a capela ou com o ambiente aberto, fecham e ficam só um pouco, é uma pena! Perdemos oportunidades de estarmos diante da situação da morte onde brilha também para nós a luz, porque a morte não é o fim, é uma luz verdadeira.

            Falava ao final da missa que celebrava na capela, como foram muito bons os gestos que acompanharam a despedida física que fizemos ao nosso Padre José Maria Baggio, que muitas vezes celebrou a santa missa neste santuário. Vejo que muitos que aqui estão puderam estar juntos na terça à noite ou na quarta pela manhã naquele momento de despedida.  Mas por tudo aquilo que ele fez, por tudo aquilo que realizou, pelos elogios que escuto dele, por suas homilias e seus testemunhos, eu, sinceramente, enquanto padre aqui deste santuário, achava que seria maior a expressão de comunhão e oração.

            Se eu não tivesse organizado com os ministros, e fiz isso para termos uma vigília durante a noite toda, acho que teríamos que fechar a Igreja e irmo embora também, porque ninguém viria. Cadê nossa expressão de solidariedade, de comunhão, de oração? Tudo isso nos ajuda, até no momento da morte, nos ajuda a sermos luz. Diz o profeta: brilhará a sua luz como aurora, mas como aprendemos a brilhar como luz? Fazendo os gestos que Jesus fez.  É desta forma, que buscamos a verdadeira luz, que só ser Jesus.

            Aprendemos no início do nosso tempo do natal que Cristo é a luz verdadeira, na epifania falamos de Cristo enquanto luz, domingo passado com velas acesas expressamos que Cristo é a luz, pois Ele sim tem luz própria.

Poderíamos comparar o Cristo enquanto sol, pois o sol tem luz própria e dá sentido para vários lugares e ambientes, e até dá sentido para a noite. A lua não tem luz própria, precisa da luz do sol. Nós somos como a lua, não temos luz própria, mas pedimos que em nós resplandeça a luz de Cristo.  Por isso, algumas vezes, somos como a lua cheia, às vezes como a lua minguante, fraca, mas mesmo que seja uma luz muito pequena, o mais importante é estarmos no mundo enquanto luz, luz que brilha a partir de um sol que é o Cristo.

            Diz ainda o profeta: “se acolheres de coração aberto o indigente, prestares socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz”.  É o segredo revelado pela Bíblia: se temos gestos de caridade, nascemos das trevas para a luz. Será como o sol que brilha sem nenhuma nuvem.

            E terminamos agora, partindo para o evangelho na parte final. Este é o desejo que precisaríamos ter, a consciência de que precisamos pedir. Assim diz Jesus a seus discípulos: “brilhe a vossa luz diante dos homens”. Cristo está nos dizendo para que sejamos estrelas, como uma luz a brilhar no mundo. “Para que vejam as vossas boas obras, e louvem o vosso Pai que está nos céus”.  Que vejam as boas obras, mas que não encontrem luz somente em nós, porque este não é o sentido de ser luz enquanto discípulo de Cristo. Na verdade, temos uma única luz que é o Cristo, mas quando começamos a brilhar como um grande céu, como uma estrela que está no céu, nos identificamos com uma luz verdadeira e podemos ser sinal no mundo que tanto necessita.

            Se vocês prestaram atenção, e muitos prestaram, o nosso salmo responsorial também falava de luz: “uma luz brilha nas trevas para o justo, permanece para sempre o bem que fez”. Os discípulos de Jesus se identificam com a luz, com as obras de Jesus, e essas obras permaneceram para sempre, para aqueles que viveram a justiça de Deus.

            Sejamos sal da terra, sejamos luz do mundo, desta forma, nos tornaremos verdadeiros discípulos de Jesus Cristo.

 

Escrito por: PE. MAURÍCIO