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Lc 19, 1-10

1Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade.

2Havia aí um homem muito rico chamado Zaqueu, chefe dos recebedores de impostos.

3Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, porque era de baixa estatura.

4Ele correu adiande, subiu a um sicômoro para o ver, quando ele passasse por ali.

5Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa.

6Ele desceu a toda a pressa e recebeu-o alegremente.

7Vendo isto, todos murmuravam e diziam: Ele vai hospedar-se em casa de um pecador...

8Zaqueu, entretanto, de pé diante do Senhor, disse-lhe: Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo.

9Disse-lhe Jesus: Hoje entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão.

10Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.


HOMILIA 31° DOMINGO DO TEMPO COMUM 29/10/2016

                   Iniciamos a nossa reflexão do dia, falando a respeito de um modo peculiar de participarmos da Liturgia, que está na compreensão do modo como Jesus revelou-se a nós. E aqui encontramos um sentido profundamente litúrgico de nos aproximarmos do Senhor.

                   Na liturgia, quando escutamos a palavra “HOJE”, estamos nos referindo a uma palavra muito importante. Na verdade estamos dizendo que aqui está acontecendo este mistério, mas que ainda não vivemos plenamente o mistério do Senhor. O “HOJE” na Liturgia significa: O agora; e o ainda não! Portanto, não se refere a uma visão cronológica do tempo. Não medimos a nossa participação na Liturgia no tempo cronológico, mas toda a nossa participação se dá no “hoje, no agora, no ainda não”, num sentido “Kairológico”. Portanto, o tempo que nos apresenta a Liturgia de hoje, é um tempo do Senhor. É neste sentido que compreendemos o modo como Lucas fala desta palavra ao longo do seu Evangelho.

                  Depois de entendermos liturgicamente passamos para uma compreensão bíblica desta palavra. Na versão de Lucas, há quatro momentos importantes em que aparece este verbete.

                  O primeiro deles está no capítulo 2: “Hoje, nasceu para nós um Salvador, que é o Cristo Senhor.”

                  A segunda aparece no capítulo 4: “Hoje, se cumpriu esta palavra da Escritura que acabaste de ouvir.”

                  A terceira está situada no Evangelho que acabou de ser proclamado: “Hoje, a Salvação entrou nesta casa.”

                  E a última encontra-se no capítulo 23: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso.”

                  Aprofundemos o momento em que estamos vivenciando “o hoje” desta Liturgia, o Senhor falando a um homem chamado Zaqueu.

                  Zaqueu significa pela própria condição do nome: Deus se recorda, ou, aquele que é puro! Mas como compreender este nome ou o significado deste nome a partir da história que acabamos de ouvir? Adentremos um pouco neste mistério sabendo algumas características de Zaqueu. Há um nome que já falamos o significado, era um homem muito rico e considerado por todos um grande pecador. Ele não só era coletor de impostos, uma profissão suja no tempo de Jesus, no sentido da corrupção, mas ele também era chefe dos cobradores de impostos. Zaqueu era um homem corrupto e conhecido por todos, devido ao exercício ilegal desta profissão.

                  Onde morava Zaqueu? Numa cidade chamada Jericó! Jericó está situada a 30 km de Jerusalém. Já percebemos que estamos bem próximos de Jerusalém, do capítulo 9 ao capítulo 19 de Lucas encontramos uma linha condutora de Jesus até Jerusalém. Ele está há 30 km, passando por Jericó. Até hoje nesta cidade, situada no território palestino, habitam muitos pobres. Jericó é uma cidade muito importante na história, é a cidade mais velha do mundo. Eu estive em Jericó em 2009, e por uma questão um pouco simbólica, estavam preparando a comemoração em 2010, dos 10.000 anos desta cidade. E em meio a ruínas, ela foi muitas vezes destruída e reconstruída novamente. É uma cidade que atravessa muitos e muitos séculos. Se nós falamos de 2.000 anos do nascimento de Cristo, nós estamos falando de uma cidade situada há 10.000 anos, portanto, já é uma cidade historicamente importante.

                  Agora, sabendo destas características peculiares do Evangelho, eu gostaria de convidá-los a fazer um caminho, como Zaqueu fez e, neste caminho nos encontrarmos com Jesus. Qualfoi a primeira coisa que fez Zaqueu e somos convidados a fazer? Ele procurava ver Jesus! Jesus estava passando naquela multidão. O que Zaqueu queria? Ele queria só ver Jesus, mas ele não conseguia.

                  Agora pensemos, um homem rico, de uma situação ou de um status social muito grande para o seu tempo, tinha tudo, mas na verdade, não possuía aquilo que transforma o coração humano, ele carregava consigo um vazio interior muito grande. É muito comum encontrarmos, até mesmo nos dias atuais, pessoas ricas em posses, com riquezas que nem sabem o quanto tem, mas vazias de coração, que não encontraram sentido para a vida. Logo percebemos, que o dinheiro não dá felicidade ao ser humano. E ele então tem um desejo no coração, uma busca, uma procura, procurava ver quem era Jesus. Mas não conseguia, era um homem de estatura muito baixa, não conseguia ver o Senhor. Ele tinha consciência da sua estatura, e não só no sentido físico, mas a consciência que era preciso humilhar-se para encontrar o Senhor.

                 Agora nos perguntemos: E nós temos realmente consciência da nossa imagem interior? Ou da imagem que nós temos de nós mesmos? Ou muitas vezes continuamos determinados por máscaras que o mundo nos apresenta tentando disfarçar um jeito para os outros, mas sabendo que a nossa condição interior é muito fraca, frágil e vazia?

                 Eis que, ele toma uma decisão. Correu adiante da multidão e subiu numa árvore, num sicômoro. Imaginem aqui a cena, o status que Zaqueu tinha, com a idade que ele possuía. Imaginemos a nós, com a idade que temos, passando por esta situação bastante ridícula. Um homem de status social muito bom, corre na frente, sobe numa árvore, só porque queria ver o Senhor, queria ver Jesus.

                 Assim, logo compreendemos que diante do desejo de querer ver a Deus, não há situação de vergonha dos amigos, nem dos inimigos, mas a coragem até mesmo de se expor ao ridículo. E foi isso que fez com que o próprio Jesus pudesse ver Zaqueu antes mesmo dele vê-lo. É a segunda parte deste caminho: Jesus quando passa, olha pra cima, diz o Evangelho, e chama inclusive Zaqueu pelo nome. É assim que Deus faz conosco, Ele sabe o nosso nome: “Zaqueu, desce depressa dessa árvore, hoje eu devo ficar na tua casa”.

                 Aparece então, a expressão “HOJE”, este “HOJE” do “AGORA” e do “AINDA NÃO”. Evidente que a expressão “ficar na sua casa” se trata de um local. Jesus foi e ficou na casa de Zaqueu, mas a linguagem bíblica é muito maior que uma casa material. A linguagem bíblica refere-se a uma casa interior que temos, o nosso coração. É assim que Jesus fez: “Hoje Zaqueu, hoje José, hoje Maria, hoje Maurício, hoje Marcos... Hoje, eu quero ficar na sua casa”.

                 Agora qual é a casa interior que disponibilizamos para o Senhor? Às vezes acolhemos algumas visitas e no máximo estas visitas chegam na sala de estar, às vezes acolhemos até na porta, damos uma olhadinha, vemos quem é e já dispensamos. Alguns são mais corajosos, quando convidam o padre então, mostram até aquele quartinho da bagunça, que cada casa na verdade carrega consigo.

                  Assim deveria ser a nossa vida diante de Jesus. Deveríamos abrir a nossa porta do coração, a porta da nossa casa e, na verdade, escancarar e mostrar tudo, não ficar com Jesus somente na porta da sala, muito menos só na sala de estar, mas Jesus precisa visitar principalmente aquele cômodo indesejado, que só nós conhecemos, onde muitas vezes guardamos as piores bagunças que existem nesta casa. E Jesus faz assim com Zaqueu, visita a sua casa. Quando as pessoas viram isso começaram a murmurar, “Jesus não está cumprindo a sua missão, foi hospedar-se na casa de um pecador...” Eu diria: Como é que agiríamos diante de uma situação, no tempo atual, de tanta corrupção e corruptos que existem, não só na política,em outros meios também, que Jesus se deparasse com eles e dissesse na mesma proporção de Zaqueu: “Hoje eu quero ficar na tua casa”. O nosso julgamento às vezes nos levaria a pensar como é que Deus pode dar Salvação a alguém, que na verdade, fez tanto mal ao mundo?

                  Mas vejam o que faz Zaqueu. Ele, na verdade, reconhece diante de si que naquele momento estava um grande mistério. Olha o que ele faz: Zaqueu ficou de pé e diz: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres (mexe nos bens materiais dele, ou seja, o dinheiro que foi recolhido daria a metade aos pobres), e se eu defraudei alguém, eu vou devolver quatro vezes mais”. Zaqueu mexeu no seu bolso. O que significa isso? Se muitas vezes não mexermos nos bens materiais, às vezes até ilícitos, não fazemos a experiência do “Kyrios”, do Senhor.

                  Percebam esta expressão: “Kyrios”, “Senhor” é uma antecipação da ressurreição. Só depois do Cristo ressuscitado que os discípulos vão dizer: “é o Senhor, o ressuscitado”. Mas Zaqueu está vivenciando a experiência do ressuscitado antes da morte de Cristo, “Senhor, eu reconheço que estou diante de Deus, portanto, vou dar a metade dos meus bens”. E o que Jesus vai dizer: “Hoje, a Salvação entrou nesta casa, porque também este homem é filho de Abraão.” É assim que Deus faz conosco e com todos. Ele não veio, na verdade, chamar os justos, mas Ele veio procurar, como encontrou Zaqueu e salvar o que estava perdido.

                  Que belíssima esta experiência de Zaqueu que somos convidados a vivenciar. Porque se não temos (tomara que não tenhamos) tantas formas de corrupção material no mundo, temos o pecado que corrompe a nossa história humana. Mas se há também condições de corrupção material, é hora de voltar-se para Deus. E neste caminho de Jerusalém realmente fazer a experiência do Cristo ressuscitado.

                  Que Ele nos ajude e, a experiência desta palavra vivenciada no final do mês de outubro, faça com que o nosso coração se volte para as verdadeiras coisas do Céu e não para as experiências que ficam aqui na terra.

 

Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 19:00h do dia 29/10/2016. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original

Escrito por: Pe. Maurício