SANTUÁRIO O PÁROCO PASTORAIS E MOVIMENTOS CAPELA IMC. CONCEIÇÃO LAR SÃO LUIZ NOTÍCIAS


Jo 20,19-23

19Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: A paz esteja convosco!

20Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor.

21Disse-lhes outra vez: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós.

22Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo.

23Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.


HOMILIA NA SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Há cinquenta dias iniciávamos o tempo pascal com uma grande vigília, a vigília da Páscoa. Entrando nesta igreja e em todas as igrejas católicas percebemos o símbolo que nos acompanha durante esses cinquenta dias, o círio pascal, que está aqui ao lado do Ambão. Este círio, uma grande vela acesa, símbolo do Cristo vivo e ressuscitado, imperou durante todas as celebrações do tempo pascal, e no final da celebração será apagado. Desta forma seremos lembrados de que a chama hoje apagada será uma chama ardente no nosso coração, para assim nos tornarmos verdadeiros missionários do Senhor.

E ao longo destes cinquenta dias, a Igreja nos oferece a oportunidade, por meio da liturgia da palavra, de um aprofundamento da nossa vida de fé. Ao coroarmos o tempo pascal com a solene liturgia de pentecostes, lembramos da terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo. Às vezes podemos fazer algumas interpretações pensando que o Espírito Santo sendo a última pessoa da Santíssima Trindade, só nasce a partir do momento em que o Cristo sobe para o céu na sua ascensão e manda esse Espírito. Mas isso não é verdade!

Sempre há revelações trinitárias desde o início da nossa história da salvação. Basta lembrarmos, por exemplo, do livro do Gênesis, mesmo antes da criação do ser humano encontra-se escrito que o Espírito de Deus pairava sobre as águas. É este mesmo Espírito que hoje invocamos que esteve presente no momento da criação e esteve presente nos vários momentos da história da salvação.

E dentro desses cinquenta dias compreendemos o porquê de ser chamado o dia de Pentecostes, lembra justamente cinquenta dias de um tempo apropriado de aprofundamento da fé.

Se olharmos para a tradição judaica onde temos as nossas raízes, perceberemos que este dia de Pentecostes era celebrado com outra conotação. Era momento de lembrar-se da aliança que Deus estabeleceu no monte Sinai, com Moisés e com seu povo. Portanto, o momento em que Moisés entrega as tábuas da lei. Logo depois na tradição judaica, a tradição dos hebreus, também foi celebrado o tempo de cinquenta dias, e segundo a tradição bíblica foi o tempo da travessia do mar vermelho até chegar à terra prometida. Em seguida, ainda foi dado outro sentido para o dia de pentecostes, como a festa das colheitas, ou das sementes.

Esta festa ligada à festa judaica se tornou uma festa cristã a partir do momento em que aconteceram muitos sinais de que o Espírito Santo realmente pairava sobre a Igreja que nascia.

O texto que ouvíamos hoje, da primeira leitura, relata este momento de cinquenta dias após a Páscoa. Há uma descrição maravilhosa de uma grande manifestação de Deus: o vento muito forte e o fogo que aparece. O vento e o fogo, sendo sinais do Espírito Santo, vêm habitar naquela comunidade reunida. Os discípulos junto com Nossa Senhora reunidos no cenáculo e de repente com aquele barulho com o forte vento experimentaram os dons do Espírito Santo descendo em plenitude, de forma que estes dons transformaram a suas vidas. A partir de então com esta grande manifestação de Deus, os outros que estavam em Jerusalém e escutaram este barulho, correram para chegar no cenáculo, e quando chegaram perceberam que os discípulos estavam falando na sua própria língua.  Mas não eram todos galileus? Como é que eles falavam e aqueles que ali estavam compreendiam o que estava acontecendo?

Pois bem, eis a linguagem que começa a se estabelecer no mundo a partir dos dons do Espírito Santo, que poderíamos assim denominar a linguagem do amor, a linguagem do Espírito Santo. Outrora houve uma dispersão desta linguagem, na torre de babel, agora, o Espírito congrega tudo em todos, em torno de Jesus, e em torno de uma unidade fundamental, como nos indica a segunda leitura que ouvimos. Há uma diversidade de dons e ministérios, mas um mesmo é o Espírito.

Por isso, nestes cinquenta dias experimentamos a presença do Cristo ressuscitado e hoje concluímos coroando e agradecendo a Deus os diversos dons e carismas da Igreja.

Mas é bom também que tenhamos consciência: os dons e carismas colocados à disposição da Igreja em vista da unidade, servirão para esta unidade à medida que soubermos acolher a diversidade de dons.

É muito triste pensar, por exemplo, que em muitas situações, há pessoas e grupos que querem transformar os outros ou outros grupos à mercê do carisma e dom que recebeu. Mas se somos diferentes e temos dons diferentes, por que não podemos acolher o outro também nestas diferenças?

O Espírito é o mesmo, a Igreja é a mesma, agora, os carismas, os movimentos, as pastorais são diferentes. Que tal acolhermos as pessoas diferentes? Se assim o fizéssemos não haveria divisões entre nós, e não precisaríamos falar tanto da unidade dos cristãos, e até pela unidade da Igreja Católica. Muitas vezes nos encontramos divididos entre nós, pertencentes a um grupo, a Paulo, Apolo, ou outros grupos, e nos achando melhores do que os outros.

Não é assim que o Espírito do amor congrega no nosso coração. O Espírito é o mesmo e a diversidade precisa encontrar acolhimento na Igreja. Particularmente eu aprecio muito essa diversidade e como é bom perceber o carisma de alguns pela pregação, outros pelo momento que silenciam, e estão rezando constantemente pela Igreja, outros ainda com carismas específicos no caso de uma congregação religiosa, para uma educação, pelo consolo de pessoas enfermas, pela ajuda aos pobres, e muitos e muitos carismas suscitados pela Igreja.

Vivemos um tempo na Igreja atual em que surgem vários carismas e ministérios. Nem sabemos ao certo, por exemplo, quantas comunidades de vida estão surgindo dentro da Igreja. Só em Curitiba são mais de cem comunidades de vida, uma diversidade de carismas e ministérios. Isso sem contar as congregações religiosas, pois a nossa arquidiocese é a Igreja diocesana que mais tem religiosos do Brasil. Aqui se congregam muitos carismas e ministérios, e é bom percebermos uma diversidade daqueles que se dedicam por um carisma, mas numa unidade fundamental em torno de Cristo.

Há alguns momentos em que somos convidados a pedir a força do Espírito, como é o caso da celebração de Pentecostes. Como será o caso no próximo final de semana dos nossos crismandos que receberão a plenitude dos dons do Espírito Santo, e como será o caso de alguma participação em uma celebração que suscite em nós os verdadeiros dons do Espírito Santo.

Portanto, os dons recebidos de maneira constante, hoje são invocados, de modo que no momento em que sairmos dessa celebração, saiamos plenos da graça. E ao sairmos daqui com a chama acesa no nosso coração, possamos irradiar luz, possamos falar mais de Jesus Cristo, possamos testemunhá-lo na nossa vida cotidiana.

Vou concluir com um trecho e com uma oração de um teólogo atual que escreve muito, chama-se José Antônio Pagola. Este teólogo escreve sobre Cristologia. Em uma das suas colocações indica para que neste dia possamos rezar, pedindo estes dons do Espírito Santo. Por isso acompanhemos essa reflexão feita por ele, de forma que saibamos a importância desta celebração.

O texto diz o seguinte: “Pouco a pouco estamos aprendendo a viver sem interioridade, já não necessitamos estar em contato com o melhor que existe dentro de nós. Basta-nos viver entretidos. Contentamo-nos em funcionar sem alma, e alimentar-nos só do bem-estar. Não queremos expor-nos a buscar a verdade. Vem Espírito Santo, e livra-nos do vazio interior. Temos aprendido a viver sem raízes e sem metas.  Basta-nos deixarmos programar-nos desde fora. Movemo-nos e nos agitamos sem cessar, mas não sabemos o que queremos, nem onde vamos. Estamos cada vez mais informados, mas nos sentimos mais perdidos do que nunca. Vem Espírito Santo, e livra-nos da desorientação. Interessa-nos apenas as grandes questões da existência. Não nos preocupa ficarmos sem luz para enfrentarmos a vida. Temos nos tornado céticos, mas também mais frágeis e inseguros. Queremos ser inteligentes e lúcidos, mas nos encontramos sem sossego e nem paz. Vem Espírito Santo e livra-nos da obscuridade e da confusão interior. Queremos viver mais, queremos viver mais tempo, mas viver para quê? Queremos sentirmos melhor, mas sentir o que? Buscamos desfrutar intensamente a vida, curti-la ao máximo, mas não nos contentamos apenas em passar bem, fazemos o que nos apetece sem proibições nem terrenos vedados. Por que queremos algo diferente? Vem Espírito Santo e ensina-nos a viver. Queremos ser livres, independentes e nos encontramo-nos cada vez mais sozinhos. Necessitamos viver e nos fechamos no nosso pequeno mundo, as vezes tão aborrecido. Necessitamos sentirmos queridos, e não sabemos criar contatos vivos e amistosos. Ao sexo nós chamamos amor, e ao prazer felicidade, mas quem saciará a nossa sede? Vem Espírito Santo, e ensina-nos a amar. Em nossa vida, não há lugar para Deus, sua presença ficou reprimida, ou atrofiada dentro de nós, cheio de ruídos por dentro, já não podemos escutar a sua voz, voltados para mil desejos e sensações, não atinamos em perceber a sua presença. Sabemos falar com todos, menos com Ele. Temos aprendido a viver de costas para o mistério. Vem Espírito Santo e ensina-nos a crer. Crentes e não crentes, poucos crentes, assim peregrinamos muitas vezes pela vida. Na festa cristã do Espírito Santo, Jesus diz a todos o que um dia disse aos seus discípulos, exalando sobre eles o seu alento: “Recebam o Espírito. Esse Espírito que sustém nossas pobres vidas e alenta nossa pobre fé pode penetrar em nós e reavivar a nossa existência pelos caminhos que Ele conhece”. (Fonte: www.ihu.unisinos.br)

Deixemo-nos guiar pelo Espírito, tenho certeza que a nossa vida será muito melhor vivida!

Este texto foi transcrito, com algumas adaptações, da homilia proferida pelo Pe. Maurício na missa das 19:00h do dia 20/05/2018. Não passou por uma revisão gramatical e ortográfica profunda, mantendo a linguagem coloquial original.

Escrito por: Pe. Maurício